As técnicas de tratamento de efluentes são relativamente recentes. De 1900 a 1970, resumiam-se à remoção de material suspenso, tratamento de orgânicos biodegradáveis e eliminação de organismo patogênicos. A partir de 1970 passou a haver uma preocupação maior com a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e a remoção de nutrientes, sendo que o tratamento de águas residuais passou a ser direcionado para questões de saúde.
Os avanços conquistados até agora, evoluíram de um tratamento preliminar e primário para um tratamento secundário com a utilização de recursos biológicos para a redução dos teores de materiais orgânicos solúveis, e, finalmente, para o tratameno terciário, que passa a abranger a remoção, através de processos químicos, de nutrientes como o fósforo e o nitrogênio, microorganismos patogênicos, substâncias corantes, entre outras não eliminadas nos processos anteriores.
Assim como ocorreu a evolução das técnicas de tratamento de efluentes domésticos e industriais ao longo da história recente e de forma compatível com o conhecimento tecnológico das diversas épocas, é sensato afirmar que esta evolução está muito aquém de seu ápice, principalmente considerando que há, ainda, muito desconhecimento acerca das características e dos efeitos dos produtos químicos no meio ambiente e na saúde humana, bem como há uma profusão de pesquisas em andamento que, certamente, possibilitarão o desenvolvimento de novas tecnologias.
E é bom que elas cheguem logo. Quanto mais se difundem e se aperfeiçoam os processos de monitoramento ambiental, mais transparece nossa vulnerabilidade a contaminações não previstas anteriormente. É o que vem demonstrando, por exemplo, os resultados de algumas pesquisas sobre a presença de fármacos residuais em efluentes de estações de tratamento de esgoto, levantando informações bastante preocupantes. O assunto tem sido alvo de diversas pesquisas em todo o mundo que têm constatado a presença de antibióticos, hormônios, anestésicos, antipilêmicos, meio de contraste de raio X, antiflamatórios, entre outros fármacos, nos esgotos domésticos e nas águas superficiais e subterrâneas em países como os EUA, Itália, Inglaterra, Holanda, Suécia, Canadá e Brasil.
Os estudos demonstram que estes fármacos não têm sido completamente removidos nas ETEs, indicando, ainda, a resistência de muitos deles ao tratamento convencional da água favorecendo seu retorno ao metabolismo humano. São vários os efeitos nocivos desta contaminação: desenvolvimento de resistências bacterianas a estas substâncias; perturbação nos sistemas endócrinos de organismos humanos e animais; e alterações determinantes nos sistemas reprodutivos de espécies marinhas e terrestres.
São muitas as evidências. Informações apuradas desde a década de 1980 comprovam estes efeitos. Foi nessa época quando foram iniciadas as primeiras pesquisas sobre a influência de substâncias estrogênicas no desenvolvimento de anomalias no sistema reprodutivo de peixes, havendo, inclusive, muitos relatos de casos de feminização de peixes machos expostos a estrogênios.
O que se constata a respeito dessas substâncias, é que são desenvolvidas pelos laboratórios farmacêuticos para serem persistentes em virtude de sua função terapêutica, podendo ser excretados do organismo humano de 50 a 90% da dosagem ingerida, com suas características completamente inalteradas.
Verifica-se, ainda, que os níveis de contaminação podem ser muito piores considerando o uso intensivo de antibióticos como promotores de crescimento na bovinocultura, suinocultura, produção avícola e aqüicultura, além do impacto direto, em águas subterrâneas, dos resíduos da indústria farmacêutica dispostos nos aterros sanitários, e do uso do lodo digestivo das ETEs na agricultura.
Este cenário indica a necessidade de uma regulamentação mais rigorosa para a produção destas substâncias pelos laboratórios, assim como um monitoramento mais eficiente na sua aplicabilidade terapêutica e produtiva. Indica, também, a urgência para o aperfeiçoamento das etapas do tratamento de água e de efluentes, ou o desenvolvimento de uma nova etapa, específica para a remoção dos fármacos residuais pelas ETEs.
Enquanto as novas tecnologias e regulamentações não chegam, continuamos gozando dos benefícios da vida moderna, ignorando, na maioria das vezes, que o custo pago por eles vai muito além do cartão de crédito.
artigos, comentários, denúncias, notícias e reportagens sobre meio ambiente, comportamento e projetos para o desenvolvimento sustentável.
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Na contramão das metas
O anúncio das metas brasileiras de redução de emissões anunciadas pelo governo Lula e sua inclusão no Plano Nacional do Clima a ser votado pelo Congresso foi o fato ambiental do ano. Num cenário de constantes más notícias nessa área, há de se comemorar qualquer avanço na área ambiental, e essa, sem dúvida, foi uma conquista relevante.
Lamentavelmente, entretanto, sua motivações não foram assim tão nobres, estando mais relacionadas a um oportunismo político do que propriamente a uma transcendência de conceitos.
Quando Marina bateu o pé e saiu do governo e do PT, admitindo entrar no páreo eleitoral, forçou a inclusão da questão ambiental na pauta das eleições de 2010 e acabou desencadeando uma reação em cadeia de posturas ecologicamente corretas, como as metas de redução de emissões estabelecidas pelo governo de São Paulo anunciadas pelo Serra, e, logo depois, após diversos pronunciamentos contraditórios, as metas do governo brasileiro a serem apresentadas na Dinamarca. Até então a postura da candidata governamental, Dilma Roussef, mais se assemelhava ao dos militares desenvolvimentistas da década de 1970. Como não poderia ficar de um lado e a questão ambiental de outra, resolveram esverdear a Dilma que hoje chefia a delegação brasileira que vai a Copenhague.
Minc ficou de lado, mas, sábio, atuou nos bastidores e certamente deve ter convencido o pessoal da campanha que seria muito conveniente assumir metas ousadas e conquistar um maior protagonismo na reunião da ONU, com Dilma à frente. Atende aos interesses imediatos e avança um passo importante na causa ambiental. E assim tem sido. É o velho pragmatismo político empurrando as causas ambientais aos trancos e barrancos.
Tudo bem. Mas e agora? Onde estão as políticas para garantir que estas metas saiam do papel e extrapolem os discursos eleitoreiros?
É aí que mora o perigo. Não há política e projeto no Brasil em andamento que possa garantir a conquista das metas anunciadas. Quanto vai ser investido no fomento ao uso de energias alternativas e aperfeiçoamento das tecnologias correspondentes? Qual o plano para a substituição gradativa das matrizes poluentes pelas limpas? Como vamos fazer isso sem arruinar a economia? E o inventário das nossas emissões? Qual a lição do apagão? Vamos descentralizar nosso sistema energético? Qual é o plano para conter o desmatamento e as queimadas na Amazônia? Vamos ampliar e desenvolver nosso sistema de monitoramento? Quanto vai ser investido no IBAMA e na Polícia Federal para que possa ser iniciada alguma fiscalização na Amazônia e nos demais biomas brasileiros. E o Cerrado, que enquanto falava-se de Amazônia e anunciava-se a existência de áreas já degradadas suficientes para suportar a produção agrícola e pecuária do País, continuava cedendo espaço para a soja e o arroz, principalmente no Estado de Goiás.
O discurso limpo sobre o biodiesel repetido incansavelmente há alguns anos, deu lugar à euforia com o pré-sal e sumiu das falas do presidente.
Enquanto os projetos para a sustentabilidade ambiental não têm projetos consistentes nem recursos relevantes, o setor de petróleo e gás vai abocanhar mais de 60% dos recursos destinados à Indústria, cerca de US$ 28 bilhões até 2012 já previstos e planejados. Para 2015 estão previstos mais seis termelétricas movidas a carvão mineral, engrossando a lista de usinas poluentes do governo Lula, até agora representando mais de 60% de toda a energia contratada em seu governo. Para as reservas gigantes do pré-sal e todo o CO2 correspondente são estimados investimentos próximos aos R$ 170 bilhões.
Como vamos reduzir nossas emissões quando os investimentos e perspectivas estão voltados para a exploração de combustíveis fósseis?
Enfim! A conta não bate. Os fatos não correspondem às metas.
Quando algumas dessas perguntas forem respondidas, poderemos saber para onde realmente estamos indo: se em direção à sustentabilidade ambiental apregoada nos discursos, ou se na contramão dos esforços para garantir um planeta saudável e agradável para nosso filhos e netos.
Lamentavelmente, entretanto, sua motivações não foram assim tão nobres, estando mais relacionadas a um oportunismo político do que propriamente a uma transcendência de conceitos.
Quando Marina bateu o pé e saiu do governo e do PT, admitindo entrar no páreo eleitoral, forçou a inclusão da questão ambiental na pauta das eleições de 2010 e acabou desencadeando uma reação em cadeia de posturas ecologicamente corretas, como as metas de redução de emissões estabelecidas pelo governo de São Paulo anunciadas pelo Serra, e, logo depois, após diversos pronunciamentos contraditórios, as metas do governo brasileiro a serem apresentadas na Dinamarca. Até então a postura da candidata governamental, Dilma Roussef, mais se assemelhava ao dos militares desenvolvimentistas da década de 1970. Como não poderia ficar de um lado e a questão ambiental de outra, resolveram esverdear a Dilma que hoje chefia a delegação brasileira que vai a Copenhague.
Minc ficou de lado, mas, sábio, atuou nos bastidores e certamente deve ter convencido o pessoal da campanha que seria muito conveniente assumir metas ousadas e conquistar um maior protagonismo na reunião da ONU, com Dilma à frente. Atende aos interesses imediatos e avança um passo importante na causa ambiental. E assim tem sido. É o velho pragmatismo político empurrando as causas ambientais aos trancos e barrancos.
Tudo bem. Mas e agora? Onde estão as políticas para garantir que estas metas saiam do papel e extrapolem os discursos eleitoreiros?
É aí que mora o perigo. Não há política e projeto no Brasil em andamento que possa garantir a conquista das metas anunciadas. Quanto vai ser investido no fomento ao uso de energias alternativas e aperfeiçoamento das tecnologias correspondentes? Qual o plano para a substituição gradativa das matrizes poluentes pelas limpas? Como vamos fazer isso sem arruinar a economia? E o inventário das nossas emissões? Qual a lição do apagão? Vamos descentralizar nosso sistema energético? Qual é o plano para conter o desmatamento e as queimadas na Amazônia? Vamos ampliar e desenvolver nosso sistema de monitoramento? Quanto vai ser investido no IBAMA e na Polícia Federal para que possa ser iniciada alguma fiscalização na Amazônia e nos demais biomas brasileiros. E o Cerrado, que enquanto falava-se de Amazônia e anunciava-se a existência de áreas já degradadas suficientes para suportar a produção agrícola e pecuária do País, continuava cedendo espaço para a soja e o arroz, principalmente no Estado de Goiás.
O discurso limpo sobre o biodiesel repetido incansavelmente há alguns anos, deu lugar à euforia com o pré-sal e sumiu das falas do presidente.
Enquanto os projetos para a sustentabilidade ambiental não têm projetos consistentes nem recursos relevantes, o setor de petróleo e gás vai abocanhar mais de 60% dos recursos destinados à Indústria, cerca de US$ 28 bilhões até 2012 já previstos e planejados. Para 2015 estão previstos mais seis termelétricas movidas a carvão mineral, engrossando a lista de usinas poluentes do governo Lula, até agora representando mais de 60% de toda a energia contratada em seu governo. Para as reservas gigantes do pré-sal e todo o CO2 correspondente são estimados investimentos próximos aos R$ 170 bilhões.
Como vamos reduzir nossas emissões quando os investimentos e perspectivas estão voltados para a exploração de combustíveis fósseis?
Enfim! A conta não bate. Os fatos não correspondem às metas.
Quando algumas dessas perguntas forem respondidas, poderemos saber para onde realmente estamos indo: se em direção à sustentabilidade ambiental apregoada nos discursos, ou se na contramão dos esforços para garantir um planeta saudável e agradável para nosso filhos e netos.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
O Pré-sal e a pesca
Já que o Pré-sal, emergido das profundezas, chega à mídia e ao debate nacional, uma questão necessita ser inserida nesta discussão tardiamente iniciada: a pesca, a atividade econômica que mais sofreu com a exploração de petróleo e gás na Bacia de Campos nas últimas três décadas. Um olhar mais minucioso sobre a convivência desastrosa entre as pequenas traineiras e os super-petroleiros e rebocadores na Bacia de Campos, certamente captará um cenário que não pode se repetir na tão promissora exploração da Camada do pré-sal nas bacias de Santos, Campos e Espírito Santo, cuja extensão chega a 800 km de mar piscoso e historicamente explorado por pescadores artesanais.
Até agora o debate tem se limitado à divisão dos lucros do pré-sal. Muito pouco tem sido discutido sobre os impactos ambientais, sociais e econômicos derivados desta exploração. A experiência da Bacia de Campos já reúne subsídios suficientes para um planejamento mais inteligente e responsável, para que não se arruínem atividades econômicas tradicionais, não se formem bolsões de pobreza nos municípios produtores, não se degrade o meio ambiente, e nem exclua o cidadão comum dos benefícios desta atividade.
É preciso identificar os reais efeitos da sísmica no comportamento dos cardumes e minimizar este impacto tão prejudicial aos pescadores. Além dos desafios tecnológicos para a retirada de petróleo e gás de áreas tão profundas, há os desafios para evitar que os peixes desapareçam das áreas onde os testes sísmicos são realizados; para que seja controlada e evitada as invasões de espécies exóticas que devastam os ecossistemas onde são inseridas; para que as plataformas de petróleo em operação não se transformem em atratores pesqueiros com o descarte de resíduos orgânicos, praticamente convidando as traineiras a ingressarem nas perigosas áreas de exploração; para que o CO2 potencial do pré-sal não aumente o déficit ambiental brasileiro em tempos de aquecimento global; e para que as empresas tenham responsabilidade nos municípios onde operarem. Estes são apenas alguns dos desafios para que a exploração do pré-sal seja realmente lucrativa para a sociedade brasileira, muito mais importantes do que os royalties e participações especiais, atualmente em barganha.
O pescador artesanal que tradicionalmente sempre pescou nas águas da Bacia de Campos, foi a classe que mais perdeu com a busca desenfreada pela auto-suficiência nacional de petróleo desde a década de 1980. Ele não só já viu esse filme como atuou nele como o personagem que apanha o tempo todo. Como essa história ganha um novo capítulo com a descoberta das reservas do pré-sal, ainda há esperança de que esse personagem não morra no final.
Até agora o debate tem se limitado à divisão dos lucros do pré-sal. Muito pouco tem sido discutido sobre os impactos ambientais, sociais e econômicos derivados desta exploração. A experiência da Bacia de Campos já reúne subsídios suficientes para um planejamento mais inteligente e responsável, para que não se arruínem atividades econômicas tradicionais, não se formem bolsões de pobreza nos municípios produtores, não se degrade o meio ambiente, e nem exclua o cidadão comum dos benefícios desta atividade.
É preciso identificar os reais efeitos da sísmica no comportamento dos cardumes e minimizar este impacto tão prejudicial aos pescadores. Além dos desafios tecnológicos para a retirada de petróleo e gás de áreas tão profundas, há os desafios para evitar que os peixes desapareçam das áreas onde os testes sísmicos são realizados; para que seja controlada e evitada as invasões de espécies exóticas que devastam os ecossistemas onde são inseridas; para que as plataformas de petróleo em operação não se transformem em atratores pesqueiros com o descarte de resíduos orgânicos, praticamente convidando as traineiras a ingressarem nas perigosas áreas de exploração; para que o CO2 potencial do pré-sal não aumente o déficit ambiental brasileiro em tempos de aquecimento global; e para que as empresas tenham responsabilidade nos municípios onde operarem. Estes são apenas alguns dos desafios para que a exploração do pré-sal seja realmente lucrativa para a sociedade brasileira, muito mais importantes do que os royalties e participações especiais, atualmente em barganha.
O pescador artesanal que tradicionalmente sempre pescou nas águas da Bacia de Campos, foi a classe que mais perdeu com a busca desenfreada pela auto-suficiência nacional de petróleo desde a década de 1980. Ele não só já viu esse filme como atuou nele como o personagem que apanha o tempo todo. Como essa história ganha um novo capítulo com a descoberta das reservas do pré-sal, ainda há esperança de que esse personagem não morra no final.
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