terça-feira, 20 de dezembro de 2011

República Democrática da Praia

Chegando o Verão impossível não pensar em praia, este espaço democrático de convivência pacífica e prazerosa, onde a origem de diferenças ou conflitos se resume a boladas involuntárias de jogos praianos ou a convivência entre pranchas e banhistas, na maioria das vezes resolvidos com um simples pedido de desculpas.

Não tem pobre nem rico, preto, branco ou amarelo, católico, espírita ou evangélico. Na praia, de sunga, calção, biquíni ou maiô, todos são iguais perante a areia, o sol e o imenso oceano.

Mas este super-espaço democrático pode, e muito, ser palco, ou arena, para o exercício da cidadania, seja com as já normais campanhas do tipo “mantenha limpa a sua praia”, seja de outra forma, como foi o caso das praias do Pecado e dos Cavaleiros em Macaé em passado nem tão distante assim.

Através dos já tradicionais “abraços do Pecado”, organizado pelo movimento SOS Praia do Pecado, ambientalistas reivindicam a desapropriação de uma grande área e sua transformação em Parque Natural, e que há 20 anos vêm impedindo a exploração imobiliária do local, bem como a construção de uma via de ligação da Avenida Atlântica entre a Lagoa e os Cavaleiros, mantendo um espaço natural da praia.

A Praia dos Cavaleiros também foi palco de muitos protestos e campanhas no final da década de 1980 e início dos 90, no século passado. Aproveitando a grande freqüência da praia nos fins de semana no Verão, um grupo de ambientalistas, poetas e artistas, organizou durante anos o “Varal de Poesias” que ficava pendurado entre duas árvores no calçadão, chamando a atenção dos banhistas que ali passavam, para algum tema, geralmente de ordem ambiental e que geralmente envolvia a defesa da própria praia.

Foi assim que foi impedida a retirada de toda a restinga para a construção de um calçadão, evitando que hoje, o avanço do mar, não seja tão drástico quanto seria sem aquela vegetação. Foi assim, também, que foi repudiado um projeto de um Pólo petroquímico para Macaé, numa época em que produzia impactos terríveis. Da mesma forma aconteceu para que não fosse instalada uma super-monobóia da Petrobras junto ao Arquipélago de Santana, projeto denunciado num palanque de campeonato de surf, e rapidamente repudiado pelos freqüentadores da praia, motivo de muitos shows musicais e varais de poesia.

A série “ República Democrática da Praia” que esta semana começa a ser publicada no Diário da Costa do Sol sobre as praias macaenses, vai relembrar muitas destas ações populares espontâneas e desvendar mais um pouco toda a magia que a praia exerce sobre as pessoas. (Publicado no Diário da Costa do Sol em 18.12.11 – abertura da série “República Democrática da Praia)

sábado, 10 de dezembro de 2011

Pesquisas confirmam importância científica de Jurubatiba

Série Jurubatiba

Considerado o Parque nacional mais estudado do Brasil, o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba já possibilitou mais de uma centena de pesquisas realizadas por universidades de todo o mundo. São pesquisas com nomes complicados quase impronunciáveis, mas que produziram resultados surpreendentes como a descoberta de espécies desconhecidas pela ciência, ou que revelaram novas informações sobre a resistência dos organismos às mudanças climáticas, assunto de extrema importância em tempos de aquecimento global.

Atualmente estão em andamento 32 pesquisas dentro do Parque, todas devidamente autorizadas pela direção da unidade, que informa ter desburocratizado o processo de autorização, que pode ser emitida em menos de 10 dias.

Apenas a UFRJ, através do Núcleo de Pesquisas Ecológicas de Macaé - Nupem - é responsável por pelo menos metade delas conforme explica o coordenador de Pós-graduação em Ciências Ambientais e Conservação da Universidade, Professor Pablo Gonçalves. “Estamos envolvidos no que chamamos de Pesquisa Ecológica de Longa Duração relacionada ao funcionamento do ecossistema de restinga, e ao comportamento dos organismos diante de variações climáticas”, explica o Professor que coordena as pesquisas referentes aos mamíferos do Parque de Jurubatiba.

“A idéia é tentar compreender como a restinga de Jurubatiba ajuda na regulagem do clima, sua importância no ciclo do carbono, a mensuração dos serviços ambientais prestados pela restinga, a valoração do patrimônio biológico – muito importante em tempos capitalistas - e o estabelecimento de parâmetros para a recuperação de áreas degradadas de restinga, bem como a recuperação de lagoas costeiras impactadas pela atividade humana”.

Segundo Pablo, as pesquisas comuns, geralmente, têm duração máxima de cerca de dois anos, enquanto que as de longa duração, também chamadas de PELD, podem chegar a dez anos de trabalho. São diversas equipes que realizam suas pesquisas focadas em grupos específicos como aves, mamíferos, vegetação, aranhas e insetos, águas, peixes e divulgação científica, podendo cada grupo merecer a atenção de mais de uma equipe de pesquisadores, mas que estão vinculadas a uma coordenação central, neste caso, chefiada pela Dra. Ana Petry, professora do Programa de pós-graduação em ecologia da UFRJ.

O Professor Pablo explica que “a descoberta do ratinho Goitacá, que até pouco tempo era confundido com espécies conhecidas, se deu graças aos pormenores e exatidões que só uma pesquisa de longa duração pode proporcionar”. E, ainda, toda a interação entre os diversos organismos da restinga, como a Clúsea, planta que faz fotossíntese à noite “como uma bateria que demora a descarregar”, e que é o habitat natural do Goitacá que se alimenta do coquinho do Guriri, e que ao enterrá-lo para garantir uma futura refeição, atua como um dispersor de sementes, garantindo a sobrevivência de sua prole e os ascendentes que virão.

Uma linha de pesquisa também muito valorizada é a que diz respeito à identificação de princípios ativos em determinadas plantas de Jurubatiba, havendo um bom histórico de pesquisas já realizadas e que, a partir de informações fornecidas por “mateiros” e “erveiros” tradicionais do Parque, foram confirmados os efeitos terapêuticos de várias destas plantas.

A UFRJ também se lança neste tipo de pesquisa, iniciando um trabalho com as plantas aquáticas abundantes nas diversas lagoas do Parque, inicialmente identificando compostos nas plantas para depois confirmar a presença de princípios ativos através de testes em laboratório.

Outra pesquisa bastante interessante coordenada pela UFRJ dentro do Parque é o levantamento histórico do perfil geológico da restinga de Jurubatiba. Através de uma perfuração de 200 metros que está sendo iniciada junto à Praia de João Francisco em Quissamã, e que vai permitir identificar os extratos do subsolo no local, ajudando a compreender todas as fases da formação geológica da restinga de Jurubatiba. (Fernando Marcelo)

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Tem boi no Parque - Sobrevôo avista rebanho em Jurubatiba


Série Jurubatiba

Sobrevôo realizado pela fiscalização do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba identificou a presença de bovinos em diversos pontos da Unidade. Segundo o Analista Ambiental Marcos Cesar dos Santos, foram avistadas cerca de 400 cabeças de gado espalhadas em diversos pontos na parte de Quissamã do Parque. Trimestralmente é realizado um sobrevôo de monitoramento com a equipe de fiscalização em aeronave cedida pela Petrobras.

“O pecuarista proprietário de terras em áreas vizinhas acaba se descuidando e permitindo a entrada dos animais que se espalham dentro do Parque, o que não é permitido”, explica Marcos, que não descarta a adoção de medidas mais ostensivas caso o problema persista, como a apreensão dos animais e multa aos infratores . Estes animais causam forte impacto ao ecossistema principalmente à vegetação rasteira devido ao pisoteio e ao pastoreio.

São vários os problemas enfrentados pela equipe de fiscalização que diariamente faz incursões nas diversas trilhas, lagoas e acessos ao Parque. O despejo de lixo, invasões, as queimadas relacionadas à extração de mel, a pesca predatória, a caça, extração de madeira, palmito e de plantas ornamentais, são os delitos mais comuns ocorridos na história da restinga de Jurubatiba, e que tem diminuído através da ação permanente da fiscalização ambiental.

As queimadas, no entanto, são as grandes vilãs do Parque pelo seu grande poder destrutivo, também para a fauna com a morte inevitável de milhares de exemplares de diversas espécies, e pelo fato de predominar o nascimento de grama no lugar da mata nativa. Um dos maiores incêndios de que se tem notícia na restinga de Jurubatiba ocorreu no ano de 2002 com a queimada de 15 hectares – o equivalente a 15 campos de futebol.

Pòr isso uma das grandes preocupações da direção do Parque é a manutenção de equipes de brigadistas bem treinadas e equipadas nos três municípios, Macaé, Quissamã e Carapebus, sempre a postos para combater os incêndios e proteger a riquíssima biodiversidade do maior e mais importante parque de restinga do Brasil..



A força da fiscalização

A fiscalização do Parque conta com a atuação das guardas municipais ambientais dos municípios de Macaé, Quissamã e Carapebus, cada qual atuando nas parcelas que cabem a cada município, porém de forma cooperativa..

Em caso de ocorrências que fogem das ações de repressão das equipes de fiscalização municipais e da equipe de brigadistas, o Parque tem o apoio do Batalhão Florestal da Polícia Militar e da Polícia Federal.

O Chefe do Parque, Carlos Alexandre Fortuna ressalta que a abertura à visitação controlada nos próximos dias, “vai ajudar a inibir a ocorrência destes problemas”, acreditando que o visitante que acessa o Parque para se divertir, acaba também exercendo uma espécie de fiscalização “extra-oficial”, inibindo os impactos com a própria presença ou comunicando à direção os problemas observados.



Regularização fundiária começou em 2011

Um dos maiores problemas enfrentados pelas unidades de conservação de proteção integral em todo o Brasil, é a desapropriação de terras e indenização aos proprietários, processos que geralmente se arrastam por décadas sem que se façam as devidas indenizações. No Parque de Jurubatiba este quadro é um pouco diferente, pois já possui os recursos, derivados de contrapartidas ambientais de processos de licenciamento na Bacia de Campos, para efetivar as desapropriações e indenizar os proprietários.

A legislação obriga a aplicação prioritária de recursos recebidos por unidades de conservação de proteção integral, em regularização fundiária. Dos 14 mil hectares do Parque, foram regularizados 2 mil, tudo no ano de 2011.

“Tem gente que já tinha desistido. Largaram a terra pra trás, achando que estava tudo perdido”, conta o analista ambiental Marcos Cesar.

Encontrar esse pessoal pra dizer que tem dinheiro a receber é uma tarefa para a equipe do Parque, afinal é recurso carimbado com rumo definido e que precisa, obrigatoriamente, ser aplicado no processo de regularização fundiária do Parque.



Contrapartidas ambientais favorecem Jurubatiba

E vai entrar muito mais dinheiro. A curto e médio prazos são quatro empreendimentos em fase de licenciamento e que gerarão recursos de contrapartidas ambientais para o Parque: a ampliação do Tecab (Terminal de Cabiúnas) , o novo gasoduto da transpetro, uma plataforma no campo de Roncador, vizinha ao campo de Frade, e os projetos da LLX no Porto do Açu. Vantagens de ser uma das poucas unidades de conservação de proteção integral em área litorânea com plano de manejo na área de abrangência da Bacia de Campos, preferenciais recebedoras de recursos e projetos nos licenciamentos offshore.

Pena que ainda não fizeram o plano de manejo do Parque Municipal do Arquipélago de Santana, decretado em 1989 para proteger o litoral de uma super monobóia da Petrobras.

Poderia estar neste rateio, viabilizando sua própria proteção e o uso turístico sustentável como o que começa a acontecer no Parque de Jurubatiba.



Proteção integral X Uso sustentável

Existem dois tipos de unidades de conservação segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc): as de proteção integral como os parques, de uso mais restrito; e as de uso sustentável, como as APAs, onde há mais flexibilidade para a atividade humana.
(Fernando Marcelo)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Parque de Jurubatiba ganhará Centro de Visitação

Série Jurubatiba


Além do início das visitações no Parque de Jurubatiba com as possibilidades de passeios de buggy, barco, caiaque, pedalinhos e barcos a vela, está previsto a construção de um Centro de Visitação na parte macaense do Parque junto à Guarita de entrada.

O projeto, resultante de um termo de ajuste de conduta com a Petrobras, prevê a construção de auditório, loja de souvenir, centro administrativo, estacionamento, torre de observação, áreas de descanso, banheiros, lanchonete e quiosques com duchas, torre salva-vidas, ambulatório, pavimentação com bloquetes na avenida litorânea até o acesso à Lagoa de Jurubatiba, e a construção de Estações de Tratamento de água e esgotos . O projeto prevê, ainda, a construção de uma ciclovia, garagem para as viaturas de fiscalização, uma sala especial para o batalhão Florestal e equipamentos para coleta seletiva de resíduos. Toda a rede de iluminação do Parque será feita em instalações subterrâneas.

A guarita de entrada já foi construída em substituição a um container instalado provisoriamente no local permitindo uma vigilância 24 horas na entrada do Parque.

Segundo cronograma do projeto, as obras devem ser iniciadas em maio de 2012 com previsão de término em abril de 2013.

O projeto que está estimado em cerca de R$ 10 milhões, será custeado pela Petrobras por força de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) acordado com o Ministério Público Federal como contrapartida ambiental referente a 50 vazamentos de água pesada ocorridos dentro do Parque entre os anos de 2002 e 2004.

Do lado de fora, na avenida conhecida como MPM que faz divisa com o Parque, outro TAC está sendo negociado para o calçamento e iluminação da via, e proteção das áreas florestadas, em substituição a outro Termo de Ajuste de Conduta , desta vez com a Prefeitura, que previa a desapropriação de todas as áreas situadas na W-30 e indenização aos moradores.


Parques da Copa

O chefe da Unidade, Carlos Alexandre Fortuna, explica que todas estas ações são preparatórias para dois grandes eventos internacionais – a Copa das Confederações em junho de 2013 e a Copa do Mundo 2014. “O Parque de Jurubatiba está relacionado entre 11 unidades de conservação federais que comporão o turismo oficial destes eventos”, diz orgulhoso.

O início das visitações regulamentadas e a construção deste centro de visitação propiciará a estrutura mínima necessária para o recebimento do grande fluxo turístico relacionado a estes dois eventos e, ainda, aos Jogos olímpicos de 2016. “Até lá vamos aperfeiçoando os serviços de atendimento ao turista com a experiência destas visitações oficiais que começarão agora”, conclui. (Série Jurubatiba – FM – Na próxima edição: fiscalização e regularização fundiária)


Jóia rara do Norte-Fluminense

Localizado na região Norte Fluminense, o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba foi criado em abril de 1998 com o intuito de preservar uma importante faixa de restinga de 14.838 ha, resguardando os atributos ambientais deste ecossistema minimamente contemplado pelo Sistema de Unidades de Conservação brasileira, quando comparados com outros biomas e ecossistemas. São 44 km de extensão ao longo da praia por 2 km de largura.

O Parque está contido nos territórios dos municípios de Macaé, Quissamã e Carapebus, estes dois últimos detentores das maiores áreas, sendo, ainda, os municípios cujos governos têm maior interesse na exploração turística da Unidade, considerando tratar-se de única alternativa de uso pelas restrições impostas pelas normas das unidades de proteção integral, caso de Jurubatiba.

Contemplado com seu plano de manejo no ano de 2005, que define os tipos de usos nos diversos espaços da Unidade, o Parque de Jurubatiba vem aos poucos se estruturando com o apoio de parceiros, mas, principalmente através de termos de ajustes de condutas e contrapartidas ambientais derivados de impactos impostos ao Parque.

Sua fauna, flora e as belíssimas e selvagens lagoas que ainda guardam características da época do descobrimento do Brasil, são atrativos de grande potencial turístico que agora começam a ser explorados de forma racional. Da mesma forma a grande biodiversidade do Parque tem atraído pesquisadores de universidades de todo o mundo cujas pesquisas, não raro, produzem descobertas de grande valor científico que abordaremos na última reportagem da série. (Fernando Marcelo)

Parque de Jurubatiba vai oferecer passeios de barco e buggy

Série Jurubatiba

Deverá ser publicada no Diário Oficial, nos próximos dias, portaria que autoriza a exploração de serviços turísticos, para a condução de visitantes e para a realização de passeios de buggy e de barco dentro do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba. A liberação destas atividades propostas pela direção do Parque dá início ao processo de visitação turística organizada, e atende aos anseios de Carapebus e Quissamã em explorar turisticamente o Parque que ocupa grande parte dos dois municípios.

A Portaria vai estabelecer as normas e os procedimentos para o credenciamento e autorização dos serviços de condução de visitantes, transporte em barco para até 10 pessoas e em veículo tracionado 4 X 2 (buggy). Com as novas regras também será possível o aluguel de caiaques, pedalinhos, barcos a vela e kite surf nas lagoas do parque, ou a utilização de equipamento próprio, desde que autorizado. Os condutores de visitantes ficarão à disposição dos turistas, sem que haja a obrigatoriedade de seu acompanhamento. Não será autorizada a utilização de Jet Ski.
O passeio de buggy está restrito ao acesso à Lagoa Preta a partir do balneário João Francisco em Quissamã, num trajeto de 13 km entre o mar e as lagoas do Parque . Já o passeio de barco compreenderá o circuito Lagoa Paulista – Canal Macaé Campos em trecho preservado e ainda navegável até a Lagoa de Carapebus. Os passeios poderão ser feitos entre as quintas-feiras e domingos, podendo ser utilizados, também, embarcações e veículos próprios, através das devidas autorizações e cumprimento das exigências estipuladas na Portaria do Instituto Chico Mendes.

Para o Chefe do Parque, Carlos Alexandre Fortuna, a regulamentação das visitações é um marco na história da unidade. Ele explica que “não é o início da visitação ao Parque, que sempre foi visitado antes mesmo de se transformar numa unidade de conservação, de forma descontrolada, mas a oficialização da visitação com regras e regulamentos”, lembrando, ainda, que foram mantidos os parâmetros contidos no Plano de Manejo.

Os interessados em apresentar propostas para exploração de serviços turísticos no Parque de Jurubatiba devem procurar a administração da Unidade, provisoriamente situada na Praia do Barreto, após a publicação da portaria de regulamentação dos serviços no Diário Oficial, ou pelo telefone 2765.6024. (Fernando Marcelo - Especial Jurubatiba – Conheça na próxima edição o projeto do centro de visitação do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba)



quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Macaé perde mais um filho ilustre

Guarasil Tavares deixa legado de inquietação, conhecimento e lucidez. Família editará livro com seus quase 200 artigos e crônicas

Faleceu na semana passada, aos 80 anos, um dos mais ilustres filhos adotivos de Macaé, Guarasil Coelho Tavares, psicólogo, economista, músico e escritor, que no ano de 1980, escolheu Macaé para viver sua vida de aposentado, pendurando a gravata e a calça comprida depois de quase 30 anos trabalhando no Banco do Brasil, 20 deles no Gabinete da presidência da Instituição no Rio de Janeiro e em Brasília.

Guarasil era uma espécie de Google pré-internet para todos os seus amigos, que sempre recorriam ao seu conhecimento enciclopédico para sanar dúvidas e pedir conselhos. Era figura disputada para prosa das boas nos tempos dos barzinhos pé sujo e estrada de terra nos Cavaleiros.

Era um apreciador do bom português, tendo no conhecimento do Latim uma ferramenta poderosa para as questões gramaticais mais complexas. Acompanhava a evolução da língua como leitor compulsivo de jornais, e mais recentemente, também como pesquisador dentro da grande rede. Seu senso crítico, entretanto, não suportava exageros como a insistência da “presidenta” em assim ser chamada.

Diariamente fazia uma copidescagem rápida nos diversos jornais que lia, assinalando erros de português e de apuração dos jornalistas, como uma espécie de exercício do próprio conhecimento e do de seu senso crítico.

Mas ele tinha dentro de si outra grande arte que a aposentadoria lhe permitiu desenvolver: a música, sonho que sempre nutriu e que realizou na Sociedade Musical Lira dos Conspiradores, onde tocou flauta transversal e clarinete, integrando aquela banda em várias apresentações, concursos e gravações no Museu da Imagem e do Som.

Guarasil tinha uma mente indócil. Logo que chegou a Macaé, comprou livros de eletrônica e transformou a garagem de sua casa numa oficina onde construiu brinquedos pra os netos e consertou gratuitamente eletrodomésticos da vizinhança.

Tempos depois abandona a eletrônica e passa a estudar orquídeas por conta própria, transformando seu jardim num orquidário, onde praticava diversos tipos de experiências e cruzamentos entre espécies, mantendo correspondência com especialistas de todo o País.

E, finalmente, a música, que passa a consumir boa parte de seu tempo através dos estudos e ensaios em casa e na Banda.

Ultimamente, vinha redigitando e, provavelmente, aperfeiçoando, as dezenas de artigos e crônicas que publicou na imprensa macaense nas décadas de 1980 e 1990, na Folha Macaense, no jornal Artenativa, no Macaé Jornal e no “O Debate”.

Deixou digitado cerca de 200 textos, muitos deles inéditos, onde investiga o comportamento humano, sob a luz da cultura e da psiquê, alternando erudição e simplicidade, e que deverão ser reunidos num livro em breve.

Dono de uma lucidez invejável, tinha na debilidade de sua saúde física, seu grande ponto fraco. Enfrentou um câncer na laringe, perdendo a voz como consequência; a surdez; a visão que vinha se debilitando; a diabetes; a hipertensão; e uma hérnia abdominal que se avolumava; foram inimigos que enfrentou até quando pôde e que já começavam a encarcerar sua sabedoria.

Seu legado está nas lembranças de todos os que o conheceram e conviveram com sua genialidade e a irreverência que também fazia questão de cultivar. Um anarquista em essência.

Certa vez, indignado por ter que usar uma calça comprida para ir ao Fórum, numa audiência com o juiz, comentou na ante-sala com amigos. “Botei calça comprida, mas em compensação vim sem cueca”.

Guarasil deixa viúva, filhos, netos, bisnetos e uma legião de amigos órfãos de sua sabedoria e amorosidade.



Não havia mais corpo

pra tanta alma

tanta mente

pra tanto coração

tanta lucidez encarcerada



e enfim ...

e chegado o momento

em que a vida voa



Adeus meu pai, meu mestre!





Fernando Marcelo Tavares



terça-feira, 22 de novembro de 2011

Estudo ambiental subestimou pressão dos reservatórios

O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) encaminhado ao Ibama pela Chevron para a licença de operação no Campo de Frade em 2007 mostra que não foram detectadas “zonas de pressão anormal ou de alta pressão”, fornecendo os valores de 8,5 a 8,7 ppg (pounds per gallon) como as variáveis dos gradientes de pressão utilizados como parâmetros para a Empresa nos cálculos para controle da perfuração no poço que provocou o vazamento.


O presidente da subsidiária brasileira da Chevron, George Buck, admitiu que a empresa errou ao subestimar a pressão do reservatório de petróleo que atingiu com o novo poço exploratório em Frade (poço 9-FR-50DP-RJS) e superestimou a solidez da formação rochosa no fundo do mar. "Subestimamos a pressão no reservatório. Era mais alta do que esperávamos. O peso da lama foi programado para outra pressão" afirmou.

O petróleo vazou por meio do poço que estava sendo perfurado, migrou para as rochas por meio de fissuras nas paredes do poço e aflorou no fundo do mar, atingindo a superfície da água e formando as grandes manchas.

O estudo refere-se às fissuras nas paredes dos poços por onde podem ocorrer vazamentos e a utilização de lama como uma espécie de reboco no poço, cujo peso específico deve ser calculado, levando em conta, ainda, a capacidade de suporte de pressão das rochas que formam as paredes do poço.
Além do erro de cálculo, ocorreu uma demora excessiva, admitida por George Buck, no envio dos equipamentos de combate ao acidente e da lama pesada usada para interromper o vazamento, utilizando as instalações da Petrobras em Macaé para estas operações, sendo que não havia disponibilidade da lama que teve que ser transportada do Rio de Janeiro. (pre-sal.info - Fernando Marcelo Tavares)







Estas e várias outras falhas no combate ao acidente do Campo de Frade, a começar pela detecção do vazamento, feita pela Petrobras e não pela Chevron que operava o poço acidentado, condena o plano de contingência da empresa e põe sob suspeição a capacidade das empresas que operam em águas profundas e dos órgãos de fiscalização em lidar com as emergências nos campos petrolíferos brasileiros.

Estudo aponta instabilidade do fundo submarino do Campo de Frade

O estudo informa, ainda que o fundo submarino em alguns locais da área explorada pela Chevron pode ser instável, sujeito a deslizes e desmoronamentos em cânions submarinos e paredes íngremes e na parte noroeste do Campo, às margens de Cânions e em áreas vizinhas das depressões largas.

Apesar de identificar diversas falhas no solo marinho, o estudo não previu o risco de liberação de óleo por meio de fissuras no solo submarino, como revelado pelo Diário da Costa do Sol em 16 de novembro, simulando a ruptura do casco da FPSO e o conseqüente vazamento de todo o óleo armazenado, como o pior cenário de um acidente com vazamento, mas mesmo assim, considerado como de média magnitude.





sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Vazamento: e os pescadores que se danem ....


Chevron ignora prefeituras e colônias de pesca, deixando sem informação milhares de pescadores que trafegam pela região por onde se espalha a mancha.

Desde a descoberta do vazamento de óleo no Campo de Frade na Bacia de Campos no dia 8 e seu primeiro comunicado no dia 9 de novembro, nenhum comunicado oficial foi feito às colônias de pescadores e secretarias municipais de meio ambiente e pesca das cidades litorâneas da área de influência do empreendimento, sobre o problema. Nenhuma nota do Ibama, da ANP, da Marinha e da Chevron, a respeito do vazamento ou contendo orientações aos pescadores com relação ao posicionamento da mancha de óleo.

O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) que fundamentou o licenciamento do Campo de Frade, prevê o compromisso da empresa estabelecer um canal de comunicação com os municípios litorâneos, em especial com os pescadores, usuários da área afetada.

O Documento, refere-se a um programa que “ define diretrizes e implementa ações para estabelecer um canal de comunicação entre a Chevron e as comunidades litorâneas, com especial atenção ao segmento pesqueiro, já que este possui maior interface com a atividade em decorrência do uso do espaço marítimo”.

Desde o primeiro anúncio do vazamento no dia 9 de novembro, feito na Dow Jones em Nova York, bem longe de São João da Barra ou São Francisco de Itabapoana, nenhuma satisfação foi dada a quem mais interessava saber: os pescadores.

O subsecretário de Pesca de Macaé, José Carlos Bento, confirma não ter recebido nenhum comunicado da Chevron, Ibama, ANP ou Marinha sobre o vazamento ou posição da mancha para orientação aos pescadores, e reclama: “Além do impacto no ecossistema marinho, tem o tempo em que o pescador terá que ficar afastado desta área, muito usada para a pesca. É preciso considerar isso para mensurar os danos”.

O presidente da Colônia de Pesca Z-3, sediada em Macaé, Marcelo Pereira, também confirma não ter recebido nenhum comunicado oficial sobre o vazamento, “nem mesmo os tradicionais “alertas aos navegantes”, que invariavelmente informam os locais onde estão sendo realizados testes sísmicos. A Colônia Z-3 tem 1800 associados possuindo em seu cadastro, cerca de 350 embarcações de pesca.

Também ficaram sem informações as colônias de Pesca Z-1 e Z-2, de São Francisco de Itabapoana e São João da Barra, respectivamente, áreas mais próximas ao local do vazamento.

“Eles não procuram a gente para nada. Esta mancha é o triplo do que estão falando. Alugam o mar, e o pescador tem que ser afastado”, protesta o pescador William Pereira, presidente da Colônia de Pesca Z-2 de São João da Barra. “Temos 60 barcos de pesca do Dourado parados. E tem, ainda, o problema da contaminação dos peixes”, alerta.

Já o presidente da Colônia de Pesca Z-1, de São Francisco de Itabapoana, José Geraldo Soares, informa ter entrado em contato com a Chevron por iniciativa própria. “Como não informaram nada, fui atrás, já que este vazamento está acontecendo em nossa maior área pesqueira. Quero receber informações. Quero saber de tudo”, exige. Estão associados à Colônia Z-1, 600 barcos de pesca que praticam a captura do camarão Sete Barbas, a pesca de linha e espinhal em alto mar. (Fonte: Fernando Marcelo Tavares – pre-sal.info)



Municípios da Área de Influência do Campo de Frade

- Niterói, no Rio de Janeiro, por ser o município onde se localizará as Bases de

Apoio.



- São João da Barra, Campo dos Goytacazes, Quissamã, Carapebus, Macaé,

Rio das Ostras, Cabo Frio, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Araruama e

Saquarema, no litoral Norte do Estado do Rio de Janeiro por serem potenciais

áreas afetadas no caso de um vazamento de óleo em grandes proporções.



- Itapemirim, no Estado do Espírito Santo, São Francisco de Itabapoana, São

João da Barra, Macaé, Cabo Frio, e Niterói, no Estado do Rio de Janeiro por

possuírem frotas pesqueiras que atuam na AID, e estarem sujeitos a

interferências em suas atividades pesqueiras.



- Cabo Frio, Búzios, e Arraial do Cabo, também por serem sujeitos a

interferência com suas atividades de recepção de cruzeiros marítimos, no caso

de um vazamento de óleo em grandes proporções.



- Presidente Kennedy, São Francisco de Itabapoana, São João da Barra e

Campos, por estarem sujeitos ao recebimento da maior parte da distribuição

municipal dos royalties gerados pela atividade de produção

Chevron fez lambança na África e na Amazônia

Assim como algumas das maiores companhias de extração de petróleo do mundo, a Chevron acumula um histórico de acidentes polêmicos. Em 2002, a empresa foi a primeira grande multinacional multada por um país africano por danos ao meio ambiente graças a um vazamento na costa de Angola. A maior polêmica, no entanto, aconteceu bem perto do Brasil. No Equador, a Chevron foi condenada a pagar uma multa recorde de US$ 9 bilhões de dólares pelo despejo de milhões de barris de produtos químicos na Floresta Amazônica.

Até hoje a empresa se recusa a pagar a quantia e se diz vítima de um julgamento injusto na corte equatoriana. O incidente inspirou o aclamado documentário "Crude", dirigido por Joe Berlinger.

Sujaram o mar e mataram a informação

Qual o real tamanho do problema no caso do vazamento no campo de Frade? A mancha de óleo pode chegar ao litoral? Como é essa fissura de 300 metros, por onde vaza o óleo? Mil ou 3.700 barris por dia? O vazamento diminuiu ou aumentou?

Como se nota, nesta história do vazamento do campo de Frade há mais desinformação do que informação. Foram constantes as divergências entre os dados divulgados pela Chevron, ANP, IBAMA e agências de notícias governamentais, desde o primeiro comunicado no dia 9 de novembro. A empresa chegou a divulgar nota informando que o vazamento estava reduzido a um “gotejamento ocasiona”l. A história estava sendo tão mal contada que Polícia Federal acusou a empresa de mentir e abriu inquérito para apurar danos e responsabilidades.

As dúvidas e desconfianças a cada comunicado divulgado cresceram e começam a tomar forma de indignação, e preocupam, porque revela um comportamento furtivo e de poucas palavras da empresa, próprio de quem está sob pressão e se prepara para uma guerra judicial.

Preocupa, ainda mais as projeções divulgadas pela Ong Sky Thrut, especializada em análise de imagens de satélite, de 15 mil barris já vazados, com uma vazão diária de 3.770 barris; a revelação de que a fissura provocada pela perfuração é na verdade uma fenda gigante de 300 metros ou mais; e a conseqüente dificuldade em vedar uma abertura destas dimensões no subsolo oceânico, a 1200 metros de profundidade.

E aí, é inevitável que nos assombre o fantasma de Macondo, o terrível vazamento no Golfo do México protagonizado pela BP em 2010, trazendo séria reflexão sobre os riscos da exploração intensiva em águas profundas. E nos faz lembrar do péssimo histórico da Chevron em Angola e na Amazônia Equatoriana.

Pensando positivamente, podemos afirmar que mesmo que este vazamento cesse agora, e não produza maiores impactos ambientais, já contribuiu para a implementação de parâmetros mais rigorosos para a concessão de licenças ambientais para novas atividades do gênero em especial no pré-sal. Pelo menos é o que se espera. Abrolhos agradeceria muito, já que está autorizada a exploração a 50 km daquele santuário ecológico.

Por não ter previsto a possibilidade de vazamentos oriundos de exsudação (migração do óleo de um lugar para o outro no subsolo oceânico) através de fissuras provocadas pelo processo de perfuração, o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) do Campo de Frade deveria ser revisto e aperfeiçoado, ficando sob suspensão a licença de operação concedida. O Ibama deveria, ainda, depois de aperfeiçoar seus parâmetros revisar todos os empreendimentos exploratórios licenciados nas bacias de Campos, Santos e Espírito Santo.

Ah! E dar uma melhorada na comunicação, ponto fraco de todos os envolvidos neste lamentável episódio. Sujaram o mar e mataram a informação! (Fernando Marcelo Tavares – pre-sal.info)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Estudo ambiental do Campo de Frade não previu vazamento “natural”




O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) das operações de perfuração e produção no campo de Frade na Bacia de Campos apresentado ao IBAMA pela Chevron para a obtenção das respectivas licenças ambientais, não menciona a possibilidade de um vazamento diretamente do subsolo oceânico, derivado de exsudação (migração do óleo de um lugar para o outro) como o que ocorreu no dia 9 de novembro, e ainda não foi contido.

O estudo menciona como pior cenário de um acidente com vazamento a ruptura do casco da FPSO com o vazamento de todo o óleo nele armazenado, cerca de 250 mil m3, simulando diversas possibilidades de locomoção da suposta mancha de óleo cru.

São mencionados como municípíos dentro da área de influência do Campo de Frade, Presidente Kennedy (ES), São João da Barra, campos, Quissamã, Carapebus, Macaé, Rio das Ostras, Casimiro de Abreu, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo,,Cabo Frio, Araruama e Saquarema (RJ). Estas são as cidades que estariam sob risco maior em casos de vazamento.de óleo.

Dos possíveis impactos previstos pelo estudo, há o econômico nas comunidades costeiras dependentes da pesca e do turismo litorâneo, citando em especial a movimentação de transatlânticos em Cabo Frio, Arraial do Cabo e Búzios, e o ambiental propriamente dito atingindo uma fauna delicada usuária da região, como as baleias Jubarte e diversas espécies de tartarugas marinhas.

O EIA (Estudo de Impacto Ambiental é o estudo que possibilita o licenciamento do empreendimento e prevê todas as possibilidades de riscos e acidentes, apontando as áreas de influência direta e indireta, e indicando as ações preventivas e de mitigação necessárias.






Vazamento continua. ANP responsabiliza Chevron

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), informou nesta segunda-feira que determinou à Chevron o abandono dos trabalhos de perfuração próximo ao ponto do vazamento. A Agência concluiu que há relação entre as atividades de perfuração na área e o vazamento descoberto no último dia 9 e comunicado ao IBAMA e À ANP no dia 10 de novembro. "O que foi detectado é que com a perfuração houve aumento de pressão em algum ponto e houve essa fissura na rocha que fez com que o óleo vazasse", informou à Reuters o diretor da ANP, Florival Carvalho, que confirmou o início dos trabalhos para a cimentacão do poço.

As informações sobre a vazão diária do vazamento são contraditórias e inexatas. A ANP fala em 700 barris derramados estando a mancha a 200 km da costa. Já a Agência Brasil divulgou o número de 400 barris por dia de petróleo engrossando uma mancha de 163 km2 que estaria a 120 km da costa.

Desde o primeiro comunicado feito à imprensa internacional, a Chevron vem insistindo na tese de “vazamento natural” sem relação com as atividades da empresa, o que foi derrubado com a informação da ANP de que o incidente está relacionado a atividades de exploração.
Um dia após o comunicado do vazamento, a presidente Dilma Rousseff pediu uma profunda investigação do incidente, o que deve aumentar a rigorosidade nos estudos de impacto e nas medidas preventivas relacionadas à exploração do pré-sal. (Fernando Marcelo Tavares)

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Cientistas calculam quantas espécies existem

Cientistas acabam de estimar quantas espécies existem na Terra. O total chegaria a 8,7 milhões, com 1,3 milhão a mais ou a menos.

Apesar do tamanho da margem de erro, é o cálculo mais preciso já feito sobre a presença de vida no planeta. Até então, as estimativas giravam entre 3 milhões e 100 milhões. Dos 8,7 milhões, 6,5 milhões são espécies terrestres e 2,5 milhões, marinhas. Para a ciência, os números representam um desafio gigantesco, uma vez que a grande maioria ainda não foi classificada ou mesmo descoberta.

Os números foram divulgados pelo Censo da Vida Marinha, uma rede de pesquisadores de mais de 80 países em uma iniciativa de dez anos focada na diversidade, distribuição e abundância de vida nos oceanos. Estão em artigo publicado na revista PLoS Biology.

"A questão de quantas espécies existem tem intrigado cientistas há séculos e a resposta, somada a pesquisas em distribuição e abundância de espécies, é particularmente importante nesse momento, uma vez que diversas atividades e influências humanas estão acelerando as taxas de extinção", disse Camilo Mora, da Universidade do Havaí, um dos autores do estudo.

"Muita espécies podem desaparecer antes mesmo que saibamos de sua existência, de seu nicho particular ou de sua função em ecossistemas", alertou. Os autores do estudo destacam que a mais recente Lista Vermelha, feita pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais, estima que 19.625 espécies estão classificadas como ameaçadas. Isso de uma amostragem total de 59.508, ou menos de 1% do total agora estimado de espécies.

"Sabemos que o número exato de livros na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos em 1º de fevereiro de 2011 era de 22.194.656, mas não somos capazes de dizer, mesmo em uma ordem de magnitude, quantas espécies distintas de plantas e animais dividem o mundo conosco", disse Lord Robert May of Oxford, ex-presidente da Royal Society.

Desde que o sueco Carl Linnaeus (1707-1778) publicou, em 1758, um sistema usado até hoje para classificação biológica, cerca de 1,25 milhão de espécies - aproximadamente 1 milhão em terra e 250 mil nos oceanos - foram descritas e seus dados estão disponíveis em bancos de dados. Outras cerca de 700 mil foram descritas mas ainda não publicadas.

Segundo o estudo, do total estimado de 7,77 milhões de espécies de animais, apenas 953.434 foram descritas e catalogadas. Das espécies marinhas, 11% foram descritas e catalogadas. Entre as plantas o conhecimento é muito maior: das estimadas 298 mil espécies, 215.644 foram descritas e catalogadas.

Mais informações e inscrições: www.coml.org.

O artigo How Many Species Are There on Earth and in the Ocean? (doi:10.1371/journal.pbio.100112), de Camilo Mora e outros, pode ser lido em www.plosbiology.org.

(Agência Fapesp)

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Na Amazônia e no código, a ciência quer ser ouvida

Artigo de Washington Novaes no O Estado de S. Paulo desta sexta-feira (19).

Ao mesmo tempo que o Senado retomava nesta semana as discussões sobre propostas de mudanças no Código Florestal, a presidente da República baixava medida provisória que altera (para reduzi-los) os limites de três parques nacionais na Amazônia, de modo a permitir que se executem neles obras das Hidrelétricas de Tabajara, Santo Antônio e Jirau. Outros dois parques deverão seguir o mesmo caminho, para permitir o licenciamento de mais quatro usinas (no complexo Tapajós).
Reabrem-se, por esses caminhos, polêmicas e temores de que a nova legislação e o novo Código Florestal estimulem o aumento do desmatamento, como parece já estar ocorrendo. Segundo o Imazon, entre agosto de 2010 e julho de 2011 a área desmatada no bioma amazônico subiu para 6.274 quilômetros quadrados. E a progressão do desmate, segundo o Ibama de Sinop (MT), está sendo estimulada "pela expectativa de anistia aos desmatadores" no código. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o número de áreas de soja em novos desmatamentos em Mato Grosso, Rondônia e no Pará quase dobrou (de 76 para 147 áreas) em relação a 2010.

Dizem muitos defensores das alterações no Código Florestal que as mudanças são indispensáveis para a expansão do agronegócio. É uma visão contestada por cientistas, que apontam, só em Mato Grosso, 8 milhões de hectares de pastos degradados (Estado, 20/7). É a opinião também do respeitado biólogo norte-americano Thomas Lovejoy, lembrando que na Amazônia a média é de uma cabeça de gado por hectare ocupado, muitas vezes inferior à de outros lugares, mesmo no Brasil, e pode ser melhorada, sem novos cortes. E "a Amazônia é a galinha dos ovos de ouro do agronegócio brasileiro", diz ele (Folha de S.Paulo, 16/8). O desmatamento maior permitido pelas alterações no código, afirma, "pode ser um tiro no pé dos ruralistas", se chegar a 20% da floresta (está em 18%), e talvez atinja um "ponto de inflexão" em que o aumento da temperatura pode estender-se até a outras áreas no Sul-Sudeste, com muitos problemas para a agropecuária.
As preocupações com a relação entre desmatamento, mudanças climáticas e "desastres naturais" estão presentes em muitos estudos científicos recentes. O Inpe é uma das instituições preocupadas - e também com um crescimento de 100% nas tempestades e catástrofes "naturais" nos próximos 60 anos no Sudeste, e mais ainda nas regiões litorâneas; três vezes mais até 2070 (Estado, 9/8). Já na Amazônia, especificamente, estudo conjunto do Inpe e do Escritório Meteorológico Hadley Centre (Grã-Bretanha) prevê forte aumento da temperatura e queda significativa na precipitação fluvial. Isso poderá significar substituição da floresta por outros tipos de vegetação.

Pois é exatamente neste momento, de tantas advertências científicas, que vem mais um alerta da Amazônia: as instituições científicas não estão sendo ouvidas na questão do Código Florestal. Nem em outras, como a da espantosa decisão de reverter uma decisão judicial e retomar o projeto de construção de um porto diante do invejável Encontro das Águas, em Manaus, onde os Rios Solimões e Negro se encontram e correm separados por quilômetros - as águas barrentas de um ao lado das águas mais escuras do outro -, fenômeno que atrai gente do País e do mundo todo.

O perigo parecia afastado quando uma decisão judicial embargou, em julho de 2010, a pedido do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o licenciamento do porto. Mas há poucos dias outra decisão, da Justiça Federal em Manaus, alegando que não houve audiências públicas antes de ser pedida a suspensão do licenciamento ambiental, revogou o embargo. E o governo do Estado do Amazonas, favorável à instalação do porto, imediatamente concedeu a licença para o projeto. Diz o Iphan que vai recorrer da decisão, também contestada pelo Ministério da Cultura - e que vem na mesma direção do "facilitário do desenvolvimento econômico" presente no desmatamento.

E - é preciso reiterar - tudo se faz esquecendo a visão da ciência. Como em outro ângulo: um grupo do Museu da Amazônia e do Instituto de Pesquisas da Amazônia está dizendo, num paper, que existe "uma grande variedade de áreas úmidas" no País, como "áreas alagadas ao longo de grandes rios, com diferente qualidade de águas (pretas, claras, brancas), baixios ao longo de igarapés de terras firme, áreas alagáveis nos grandes interflúvios (campos, campinas e campinaranas alagáveis, campos úmidos, veredas, campos de murunduns, brejos, florestas paludosas), assim como áreas úmidas de estuário (mangues, banhados e lagoas costeiras". Cada um desses tipos, diz o estudo, deve receber "tratamento específico em forma de artigo específico no Código Florestal, que deve conter flexibilidade suficiente para absorver os avanços do conhecimento científico".

Mas isso não está ocorrendo, com prejuízos para a sociedade e o meio ambiente, já que as áreas úmidas "proporcionam benefícios e serviços ambientais importantes". Como, por exemplo, estocagem de água, limpeza de água, recarga do lençol freático, regulação do clima local, manutenção da biodiversidade, regulação de ciclos biogeoquímicos, inclusive estocagem de carbono, hábitat e subsídios para populações humanas tradicionais (pesca, agricultura de subsistência, produtos madeireiros e não madeireiros e, em áreas abertas savânicas, pecuária extensiva).

Esse papel das áreas úmidas, afirma o texto, "vai aumentar ainda, considerando os impactos das mudanças climáticas previstas". Só na bacia amazônica são 30% da área; no Pantanal, 160 mil quilômetros quadrados. Ao todo, incluindo outras áreas, 20% do território brasileiro. Por tudo isso, os usos potenciais dessas áreas "deverão ter reconhecimento específico, dentro do Código Florestal e em outras instâncias federais".

É a voz da ciência. É preciso ouvi-la nesta nova discussão no Congresso. E no Encontro das Águas. (Washington Novaes - wlrnovaes@uol.com.br – O Estado de São Paulo)

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Sustentabilidade que não se sustenta

Recentemente foi divulgada a notícia de que o lobby do agronegócio no Congresso Nacional quer alterar a forma como são criadas as unidades de conservação, passando esta competência ao legislativo.

Primeiro atacaram as Áreas de Preservação Permanente (APPs) numa tacada só na revisão do Código Florestal, diminuindo as áreas de proteção marginais a mananciais hídricos à revelia de parâmetros científicos e demonstrações trágicas da realidade.

Agora querem frear a criação de novas unidades de conservação, que protegiam minimamente ecossistemas importantes, sob a alegação da necessidade de se ampliar áreas cultiváveis como se já não fossem abundantes.

Como se não bastasse, nos últimos dias a presidente Dilma Roussef deu importante passo para desmoralizar nosso Sistema Nacional de Unidades de Conservação ao reduzir em centenas de quilômetros quadrados, por decreto, as áreas de três importantes parques nacionais na Amazônia, para legitimar obras de hidrelétricas e atividades de mineração em seus entornos, precedente para retrocessos inimagináveis.

A própria concepção para a criação de unidades de conservação já era insuficiente do ponto de vista da sustentabilidade. Parte do pressuposto da exploração inevitável, num salvem o que puder, sem recursos, pessoal e vontade governamental.

Permite o desmatamento de imensas áreas nativas, mantendo ínfima parte dela protegida como reserva, Parque, Apa, ou outra modalidade do sistema, projetando um futuro onde estas unidades serão museus a céu aberto, fragmentos de florestas em meio a um cenário de pastagens, soja e cidades. E mais, passíveis de redução de suas áreas quando surgirem empreendimentos que o “justifiquem”.

Todos sabem que biomas como o Cerrado, a Amazônia e a Mata Atlântica, prestam serviços ambientais que sustentam a própria economia, além da farta biodiversidade que mantêm, e cujas potencialidades ainda ignoramos em sua totalidade. Em vez de investimentos para pesquisar e explorar estes recursos, como matérias primas para a indústria farmacêutica, por exemplo, desmatamos para dar lugar a atividades extensivas insustentáveis.

As novas concepções para geração de energia e cultivo menos impactantes, em menor escala,  e inclusivas, apesar de fartamente divulgadas, não encontram espaço neste modelo econômico mundial, onde tudo tem que ser feito em larga escala e dentro do menor prazo possível em função de uma otimização de custos, que só otimiza o bolso do acionista, ignorando custos sociais e ambientais.

É a roda que gira, torta, neste planeta econômico que reluta em permitir que se implante uma nova ordem na relação da civilização com os recursos naturais.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

1.Parques diminuem na Amazônia. 2. A galinha de ovos de ouro do agro-negócio

Posto duas matérias sobre a Amazônia publicadas nos jornais Estado de São Paulo e Folha de São Paulo, tentando reunir aqui o que de mais importante é publicado na mídia sobre o tema, neste instante em que conquistas ambientais históricas parecem desmoronar diante de nossos olhos.


Na primeira matéria, o governo mostra que mata a cobra e tudo o que tiver pela frente de sua concepção desenvolvimentista, e mostra a caneta que numa penada só reduziu as áreas de três parques nacionais na Amazônia, para viabilização de empreendimentos em seus entornos.

E na segunda, uma entrevista com o biólogo americano Thomas Lovejoy, 69, pioneiro nas pesquisas sobre a região amazônica. Apesar dos graves problemas que afetam a região que tanto conhece, lembra conquistas importantes e mostra uma visão otimista quanto à sustentabilidade neste mundo capitalista, lembrando que “Economia e ecologia têm a mesma raiz grega: "oikos", que remete a "casa".



Dilma muda limite de unidades de conservação para abrigar hidrelétricas

Medida Provisória altera demarcação de três parques nacionais na Amazônia e libera exploração mineral no entorno de dois deles. Com a mudança, empreiteiras poderão instalar canteiros de obras das usinas de Tabajara, Santo Antônio e Jirau.

Três parques nacionais na Amazônia - do tipo de unidade de conservação (UC) mais protegido no País - tiveram seus limites alterados para abrigar lagos e canteiros de obras das usinas hidrelétricas de Tabajara, Santo Antônio e Jirau, em Rondônia. Medida provisória editada pela presidente Dilma Rousseff e publicada na edição de ontem do Diário Oficial da União também autoriza a exploração mineral no entorno de dois dos parques.

Foram alterados os limites dos Parques Nacionais da Amazônia, Campos Amazônicos e Mapinguari. Duas outras unidades deverão ter os limites alterados em breve para o licenciamento ambiental de quatro hidrelétricas do complexo do Rio Tapajós, que ficarão entre as maiores das novas usinas da Amazônia, ao lado de Belo Monte, Santo Antônio e Jirau.

Os empreendimentos localizados nas unidades de conservação já alteradas eram defendidos pelo Ministério de Minas e Energia, até mesmo a mineração de ouro na área de 10 quilômetros no entorno do Parque Nacional Mapinguari, o maior dos três parques a ter o limite alterado, com 17,5 mil quilômetros quadrados, o equivalente a mais de 11 vezes a área da cidade de São Paulo.

Outro motivo para a alteração dos limites dos parques foi a regularização fundiária de ocupações de terras públicas até o limite de 1,5 mil hectares, além do conflito com áreas de assentamentos para a reforma agrária na região. A floresta remanescente nessas regiões só poderá ser explorada por meio de planos de manejo previamente autorizados.

O presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Rômulo Mello, diz que a alteração do limite dos parques nacionais não impõe perdas à proteção da floresta. "Essas mudanças refletem bem a perspectiva de negociação que procuramos. Nossa postura não é travar, é negociar. Garantimos a conservação e permitimos que os empreendimentos sigam adiante", afirmou. "Fazemos o jogo do ganha-ganha", insistiu.

A Hidrelétrica de Tabajara, no município de Machadinho do Oeste, em Rondônia, é uma das obras previstas na segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Sua construção dependia da alteração dos limites do Parque Nacional Campos Amazônicos, criado em 2006. A previsão é que a hidrelétrica produza 350 megawatts (MW).

Lobby - A inclusão da Hidrelétrica de Tabajara no PAC teve forte lobby do presidente interino do PMDB, senador Valdir Raupp (RO). Para o projeto seguir adiante, faltava tirar do caminho da obra as restrições impostas às unidades de conservação. O Parque Nacional Campos Amazônicos perdeu ao todo, por meio da MP, 340 quilômetros quadrados e ganhou outros 1,5 mil quilômetros quadrados.

No caso do Parque Nacional Mapinguari, o ajuste ocorreu por conta da revisão do alcance do canteiro de obras e dos lagos das Hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira. A perda de 70 quilômetros quadrados teria sido compensada com um acréscimo feito anteriormente em permuta com o Estado de Rondônia. O Parque Nacional da Amazônia perdeu agora 280 quilômetros quadrados, supostamente compensado, com folga, por acréscimo anterior a pouco mais de 1 mil quilômetros quadrados.



Para lembrar - O Estado revelou anteontem que as Unidades de Conservação (UCs) se tornaram o mais recente objeto de disputa entre ambientalistas e defensores do agronegócio. Na semana passada, durante audiência pública na Câmara, o deputado Moreira Mendes (PPS-RO), presidente da frente parlamentar da agropecuária, anunciou uma "grande campanha" para impedir que novas UCs sejam criadas sem a prévia autorização do Congresso Nacional. Hoje, a criação é feita por meio de decreto presidencial. Os ruralistas afirmam que a expansão dessas unidades pode comprometer a produção de alimentos no País.

(O Estado de São Paulo)




Amazônia é a galinha dos ovos de ouro do agronegócio brasileiro

Mata é importante para manter chuvas que abastecem lavouras do Centro-Oeste; autorizar mais desmate com nova lei é tiro no pé, afirma pesquisador.

O agronegócio sairia ganhando se visse a Amazônia como "galinha dos ovos de ouro". Se a floresta morre, as chuvas na região secam, e o lucro evapora junto. É o que pensa o biólogo americano Thomas Lovejoy, 69, pioneiro nas pesquisas sobre a região amazônica.

Quando visitou a floresta pela primeira vez, em 1965, ele era um jovem biólogo à procura "da maior aventura possível". Lovejoy é presidente de ciência do Fundo Ambiental Global (GEF), diretor de Biodiversidade do Centro Heinz para a Ciência, Economia e Ambiente, e professor da Universidade George Mason (EUA). Pai de gêmeas cariocas, de férias no País, defendeu que o cuidado com a Amazônia seja parcelado entre várias nações.



O sr. afirma que a devastação na Amazônia pode chegar a um limite, a partir do qual o sumiço da floresta seria um caminho sem volta. Estamos perto?

O Banco Mundial pôs US$ 1 milhão num estudo que projeta pela primeira vez os efeitos de mudança do clima, queimada e desmatamento juntos. Os resultados sugerem que poderia haver um ponto de inflexão em 20% de desmatamento [da floresta original]. Estamos bem perto, 18%. Isso significa que áreas do sul e sudeste da mata vão começar a secar e se transformar em cerrado. É como jogar uma roleta de "dieback" [colapso] na Amazônia.



Com o desmatamento subindo de novo, qual é o prazo para esses 20%?

Não fiz cálculos, mas não tomaria muito tempo. Pode ser cinco anos, se continuar assim. Claro que [a devastação] traz implicações para os padrões de chuva, incluindo as áreas agroindustriais de Mato Grosso e mais ao sul, até o norte da Argentina. O ex-governador [Eduardo] Braga [AM] costumava dizer ao ex-governador [Blairo] Maggi [MT]: "Sua soja depende da chuva no meu Estado".



Quais as consequências para a agricultura?

Agricultura e economia teriam menos chuvas. E elas dependem da chuva. Talvez não em São Paulo, mas mais ao oeste, com a água passando pelas hidrelétricas, em projetos como Belo Monte.



O sr. estuda a Amazônia há mais de quatro décadas. Quais previsões deram certo e quais passaram longe?

Meu primeiro artigo sobre a Amazônia, escrito em 1972, chamava-se "Transamazônica: estrada para a extinção?". Não acho que alguém tinha a capacidade de imaginar a soma de desmatamento que ocorreu. Lembro quando as primeiras imagens de satélite saíram, nos anos 1980. Todos ficaram surpresos. Também houve boas surpresas. Uma é a força da ciência brasileira aplicada na Amazônia. A outra é a consciência pública, que em geral é bastante alta no Brasil. E também a extensão das áreas protegidas, incluindo as demarcações de fronteiras indígenas. Tudo isso junto protege 50% da Amazônia, o que é impressionante.



Do jeito que está, o novo Código Florestal pode impedir o crescimento na produção de alimentos?

Não acho que precisemos enfraquecer o [atual] Código Florestal para aumentar a produção agrícola no Brasil. No caso do gado, o uso médio da terra na Amazônia é de uma cabeça por hectare. Essa é a média mais baixa em qualquer lugar do mundo. É uma questão de organizar a imensa capacidade da Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária], um dos centros líderes de agricultura no mundo.



Comparado com os EUA, o Brasil tem legislação ambiental rígida. Lá, sequer estão na mesa criar coisas como a reserva legal. Pode soar paternalista dizer o que deve ser feito por aqui?

Só estou tentando pensar no que faz sentido para o Brasil, não necessariamente no que faz sentido o Brasil fazer para o resto do mundo. O atual Código Florestal é um dos mais visionários do planeta. Nos EUA, temos de pagar o preço de não ter tido essa visão há muito tempo. E também não temos florestas tropicais, mais sensíveis. Economia e ecologia têm a mesma raiz grega: "oikos", que remete a "casa". Não existe ser no planeta que não afete seu ambiente sem consumo e produzir desperdício. A questão da sustentabilidade está nos detalhes de quanto e como se faz isso.



Qual a sua avaliação do governo Dilma no debate?

Até agora, parece muito prático, sério. Como ela vai responder a qualquer que seja o Código Florestal será, claro, um grande teste. Mas ter deixado claro que o governo Dilma não aprovaria a anistia [aos desmatadores] é um sinal bem positivo. O que é perigoso, na lei, é a ideia de dar o poder de demarcar as reservas legais aos estados. Se você vai administrar a Amazônia como sistema, precisa ser consistente.



O sr. conhece a senadora Kátia Abreu, uma das vozes da bancada ruralista?

Não conheço, mas diria a ela: "Você precisa tomar cuidado para não matar a galinha dos ovos de ouro". E o ovo de ouro é a chuva.



O caos nas finanças globais tira os holofotes da questão ambiental?

Geralmente, quando há forte recessão econômica, muitas das coisas que causam problemas ambientais se enfraquecem. Alguns dos motores do desmatamento, como os preços da soja e da carne, enfraquecem quando a demanda é menor.



O Brasil é capaz de cuidar sozinho da Amazônia?

O BNDES tem de ser cuidadoso com os projetos de infraestrutura, pois há todos os outros países [amazônicos]. O Brasil não deveria segurar a responsabilidade sozinho. A Amazônia é um elemento-chave no funcionamento do mundo. É do interesse de outros países ajudar o Brasil.



Já chamaram o sr. até de espião da CIA. Há paranoia sobre um complô internacional para 'roubar' a Amazônia?

Isso não tem fundamento. A pior forma de biopirataria é destruir a floresta.



Parte da comunidade científica minimiza o papel do homem no aquecimento global. O que o sr. acha?

Não há quase nenhum cientista com credibilidade que acredite nisso. Nos últimos 10 mil anos, a história climática do planeta foi bem estável. Agora, nós o estamos mudando. Está claro que 2 ºC a mais é muito para a Terra.

(Folha de São Paulo)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Ruralistas miram áreas de preservação

Matéria do Correio Braziliense mostra como os ruralistas querem, agora, acabar com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Ou o movimento ambiental se reorganiza, ou ... 


Bancada ligada ao agronegócio quer transferir para o Legislativo tarefa de criar unidades de conservação

Depois de costurar as mudanças no Código Florestal Brasileiro, conseguir a aprovação da Lei em plenário e impingir uma derrota ao governo, a bancada ruralista da Câmara dos Deputados prepara uma proposta que mais uma vez afronta o Executivo. O deputado federal Moacir Micheletto (PMDB-PR) prepara um projeto de lei que muda a forma como são definidas as unidades de conservação, consideradas os principais redutos da biodiversidade brasileira. Micheletto e um grupo de parlamentares articulam para que a delimitação de novos parques federais seja responsabilidade do Congresso, e não da presidente da República. Por determinação de lei vigente há 11 anos, a criação de unidades é feita por meio de decreto presidencial.
O grupo liderado por Micheletto, que presidiu a comissão especial criada na Câmara para avaliar o Código Florestal, deu início à nova ofensiva por meio de um requerimento de informação encaminhado à ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, em 6 de julho. No documento, remetido pelo presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, deputado Lira Maia (DEM-PA), Micheletto cobra da ministra informações detalhadas sobre todos os parques nacionais criados entre 1988 e 2011.
Os dados solicitados incluem as áreas dos parques, os valores pagos aos produtores rurais a título de indenização e os nomes dos servidores responsáveis pelo processo de criação da unidade de conservação. Na justificativa do requerimento, os deputados informam que a Câmara realizará um estudo para alterar os procedimentos de criação de parques. "Os procedimentos devem ser menos traumáticos para as famílias dos produtores rurais." O Correio apurou que o estudo citado é o projeto de lei que pretende transferir do Executivo ao Legislativo a competência para criar novos parques.

Izabella Teixeira e o presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Curt Trennepohl, foram convidados pela Comissão de Agricultura da Câmara para discutir a forma como são definidas as novas unidades de conservação. A reunião está confirmada para a semana que vem, no dia 9. Dentro do ministério, a interpretação é de que a proposta de Micheletto, se aprovada, vai dificultar a criação de novas unidades de conservação e atrapalhar a meta assumida pelo Brasil na última Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Biodiversidade (COP-10), no ano passado. Os países participantes acertaram elevar as áreas terrestres protegidas de 12% para 17% dos territórios.

Quase 9% do território brasileiro está protegido em unidades de conservação. Sob a responsabilidade da União, estão 310 unidades. Cerca de 20 milhões de hectares precisam ser regularizados. "Há um problema histórico de disputa com grileiros e posseiros. É mais conveniente que o Executivo crie os parques, mas não cabe essa disputa com o Congresso", afirma o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Rômulo Mello. O ICMBio é responsável pelas unidades de conservação da União. Para o deputado Micheletto, a forma como os parques são criados pode render até mesmo uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). "Se a ministra não informar o que o Parlamento pediu, a CPI pode ser criada. Queremos a mesma coisa feita com o Código Florestal, com mais transparência." (Fonte: Correio Braziliense)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Novaenergia transformará plástico em óleo

A Wastech, empresa baiana especializada em tratamento de resíduos, está criando uma nova companhia, chamada Novaenergia, que atuará na transformação de lixo plástico em petróleo. A RJCP Equity, empresa de investimento em capital de risco, será sócia minoritária no projeto.

A Novaenergia está em fase de captação de recursos e pretende ter a primeira unidade funcionando até o fim de 2012. O investimento inicial será de R$ 25 milhões a R$ 30 milhões. No total, o plano da companhia é ter 20 fábricas no país no prazo de cinco anos, o que exigirá investimento total de R$ 540 milhões. Desse montante, R$ 54 milhões serão na forma de capital, R$ 105 milhões em dívida (incluindo linhas de Finame do BNDES e crédito do fornecedor) e R$ 381 milhões em geração de caixa.

Ao fim dos cinco anos, a previsão é de que as 20 unidades tenham uma capacidade anual de produção 224 mil m3 de petróleo leve (com mais de 44 graus API), equivalente a 1,4 milhão de barris. O petróleo produzido será refinado e vendido em forma de nafta, óleo combustível e diesel.

A primeira fábrica ficará em Salvador e será capaz de processar 450 toneladas de lixo por dia, o que equivale a um sexto do total de resíduos gerados hoje diariamente na cidade. Desse montante de lixo, a empresa vai usar somente 36 toneladas de plástico considerados difíceis de reciclar, como sacolas e filmes. Materiais como PET, PVC e sucata metálica serão vendidos e o lixo orgânico aterrado.

Para cada 36 toneladas diárias de lixo plástico que entrarem de um lado da máquina, sairão 30 mil litros de óleo leve do outro. A tecnologia de transformação de plástico em petróleo foi desenvolvida por uma empresa americana chamada Agilyx, que já faz o processo comercialmente há um ano.

Recentemente, a empresa dos EUA recebeu aporte de US$ 22 milhões do fundo Kleiner Perkins Caufield & Byers, que investiu em empresas como Amazon e Google; da Waste Management, uma das maiores empresas americanas de tratamento de resíduos; e também da divisão de capital de risco da petroleira francesa Total.

De acordo com Luciano Coimbra, presidente e controlador da Wastech e da Novaenergia, os projetos ambientais, via de regra, dão retorno financeiro muito baixo. "Não é o nosso caso. O projeto tem alto impacto ambiental e terá altíssima rentabilidade." A Wastech, que trabalha há 27 anos com tratamento de resíduos industriais perigosos, começou há cerca de quatro anos a desenvolver o projeto da Novaenergia.

Depois de pesquisar diversas tecnologias, Coimbra conheceu a Agilyx, com quem firmou, no início de 2010, um contrato de exclusividade para exploração da tecnologia no Brasil.
Engenheiro químico, Coimbra diz que o processo de transformação do plástico em petróleo é algo que está nos livros, mas que para tornar isso comercial é preciso saber alguns macetes. Em vez de pagar royalties sobre a produção, a Novaenergia vai remunerar a companhia americana a cada fábrica construída.

Coimbra diz que já tem acordo com a concessionária responsável pelo aterro de Salvador. Nesse tipo de modelo, previsto para cidades grandes, a concessionária poderá ser sócia da fábrica de transformação de plástico em petróleo - com intervalo de 30% a 70% do capital - e terá que investir no projeto. Para a prefeitura, será destinado de 2% a 3% do óleo produzido.

Outra possibilidade, pensada para cidades médias, é atuar também como concessionária e processar todos os resíduos. Um terceiro modelo estaria ligado ao plástico recolhido pelas fabricantes de produtos industrializados que precisarem montar estruturas de logística reversa, conforme previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos. (Fonte: Valor Econômico)

Petróleo da BP continua “preso” no fundo do mar

Milhões de barris de petróleo que vazaram da plataforma da BP no Golfo do México continuam presos no fundo do oceano, alerta um especialista da Suíça. Samuel Arey, químico ambiental da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), realizou pesquisas sobre o comportamento do petróleo e do gás que vazaram nas profundezas do Golfo do México.
Onze trabalhadores da plataforma morreram no acidente de 20 de abril de 2010 e o governo dos EUA estima que cerca de 206 milhões de galões de óleo vazaram a 1.600 metros abaixo da superfície do mar. O vazamento levou três meses para ser tapado e foi pior da história dos EUA.

Arey e pesquisadores do Instituto Oceanográfico Woods Hole de Massachusetts, nos Estados Unidos, usaram um aparelho teleguiado para coletar amostras em junho de 2010 a partir da base da plataforma. Assim como o bruto derramado na superfície, eles analisaram uma imensa língua a 1.100 metros abaixo da superfície que se deslocava horizontalmente.

A pesquisa foi publicada na última edição online da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.


wissisnfo.ch: Quais são as principais conclusões de sua pesquisa?
Samuel Arey: Como o petróleo e o gás sobem para a superfície, algumas substâncias são conservadas no fundo do mar por se dissolverem rapidamente na água.
Isso é diferente de um derramamento de óleo convencional, que normalmente acontece na superfície do mar. Quando isso acontece à luz, componentes voláteis, tais como os gases metano, etano e propano, mas também os hidrocarbonetos leves, como benzeno, tolueno ou xileno, tipicamente escapam rapidamente para a atmosfera.
Mas, no caso de um vazamento em águas profundas, essas substâncias não têm esta opção. Primeiro, elas são expostas à coluna d’água por muitas horas e isso permite que uma quantidade significativa de compostos seja dissolvida e retida no fundo do oceano.
Quando pensamos em aplicar os conhecimentos convencionais sobre vazamentos de petróleo e os danos ecológicos, precisamos reconhecer que há um impacto novo que precisa ser levado em conta.

swissinfo.ch: ainda há incerteza sobre o destino do óleo. Alguns cientistas dizem que até 50% ainda pode estar flutuando por aí abaixo da superfície. Quais são os seus números?
SA: Eu não sei. Uma fração significativa de óleo está presa no fundo do oceano, mas eu não sou capaz de dar um número. O estudo publicado agora irá fornecer uma base importante para podermos estimar adequadamente, em seguida, a quantidade que foi mantida.

swissinfo.ch: Será que o processo natural de intemperismo, atividade microbial e eventual evaporação, podem dissolver os resíduos de petróleo?

SA: Cada componente precisa de um determinado tempo. Alguns componentes podem ser degradados por micróbios em alguns dias, semanas ou meses, como o metano ou etano. Outros podem levar muitos anos ou mesmo décadas.
Mas, como este vazamento foi tão profundo, eu suspeito que normalmente ele não chegue à atmosfera. O tempo de transporte da água naquela profundidade para chegar à superfície é provável que seja da ordem de muitos anos, assim não é provável que a evaporação será um processo significativo.
Se o petróleo pousar em sedimentos subaquáticos pode ficar preso indefinidamente. Pode-se argumentar que a sua relevância ambiental é limitada aos organismos do sedimento no fundo do mar, mas temos experiência de derramamentos de óleo na superfície do mar que atingiram a costa, ficando enterrados em sedimentos, e que ainda se encontravam lá, relativamente fresco, 50 anos mais tarde.
Esse tipo de processo pode preservar o petróleo durante um longo tempo e continua tendo impacto ecológico sobre os organismos que vivem nesta parte do ecossistema.
swissinfo.ch: Cerca de dois milhões de galões de dissolvente foram usados para diluir o petróleo, incluindo abaixo da superfície. Tais produtos poderiam ter causado danos permanentes?
SA: Eu acho que o júri ainda não abordou essa questão. É difícil dizer de maneira geral se os dissolventes diminuem ou aumentam o impacto ambiental. Há argumentos de ambos os lados, mas nenhum me convenceu.
swissinfo.ch: Quais são as principais lições aprendidas com sua pesquisa?

SA: Eu acho que a lição mais importante é que a exploração de petróleo em alto-mar comporta riscos consideráveis que vão muito além das estimativas feitas pelas companhias que exploram esse filão. Isso continuará sendo um problema nos próximos anos à medida que aumenta a pressão para desenvolver essas zonas de perfuração. (Fonte: swissinfo.ch)

terça-feira, 19 de julho de 2011

Ibama faz audiência pública sobre hidrelétrica no rio Paraíba do Sul

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) abriu hoje (19) uma série de audiências públicas para discutir o projeto da Usina Hidrelétrica de Itaocara, que será instalada no rio Paraíba do Sul e terá impactos diretos em três municípios de Minas Gerais e cindo do estado do Rio de Janeiro.

A primeira audiência pública ocorre em Estrela Dalva (MG). Amanhã (20), a audiência pública pretende reunir os moradores do município fluminense de Aperibé. Na quinta-feira (21), será a vez de Cantagalo e, na sexta (22), Itaocara, ambos no Estado do Rio.

O Ibama também vai promover audiências públicas a partir da na semana que vem discutir a implantação da linha de transmissão de energia elétrica de 230 quilovolts (kV) entre Jauru (MT) e Porto Velho (RO). As audiências estão marcadas para os municípios de Ji-Paraná (RO), Vilhena (RO) e Jauru (MT). (Fonte: Agência Brasil)

terça-feira, 1 de março de 2011

IMPACTOS LOCAIS - A EXPERIÊNCIA DE MACAÉ - LIÇÕES PARA O PRÉ-SAL

Íntegra do trabalho apresentado na Oficina sobre impactos locais do petróleo na cidade de Macaé, realizada em dezembro de 2010 no campus da Universidade Federal Fluminense (UFF) - Fernando Marcelo Tavares


Histórico
Cidade sede da exploração de petróleo e gás da Bacia de Campos, Macaé, uma pequena cidade de economia voltada basicamente para a agricultura (cana), pecuária bovina e pesca, passa a sofrer os primeiros impactos a partir de 1974, principalmente no que diz respeito à especulação imobiliária fomentada pelas primeiras movimentações da Petrobras na cidade.
A exploração da Bacia de Campos começou, entretanto, no final de 1976, com o poço 1-RJS-9-A, que deu origem ao Campo de Garoupa, situado em lâmina d’água de 100 metros. Já a produção comercial, começou em agosto de 1977, através do poço 3-EM-1-RJS, com vazão de 10 mil barris por dia, no Campo de Enchova.
Ao se instalar na cidade, a Petrobras ocupou três pontos da rodovia RJ-106, no centro e nos extremos do centro urbano. Situou no centro da cidade, sua principal base de operações, no bairro Imbetiba, descaracterizando aquela que era a praia mais bela e mais acessível à população local, instalando ali seu porto.
A leste, já próximo aos limites com o município de Carapebus, instalou o Terminal Cabiúnas próximo à restinga de Jurubatiba e suas lagoas, mais tarde transformada em Parque Nacional – o único Parque Nacional de Restinga do Brasil e que guarda uma biodiversidade única, sendo hoje, objeto de mais de 50 pesquisas realizadas por universidades de todo o mundo.
E a oeste, nos limites com o município de Rio das Ostras, instalou seu parque de tubos dentro da micro bacia hidrográfica do rio Imboassica, principal contribuinte da Lagoa que sofre intenso processo de degradação desde que toda a área de seu entorno dentro do município de Macaé, passou a ser ocupada de forma desordenada por condomínios e empresas.
Atualmente a atividade de exploração offshore de petróleo e gás envolve cerca de 60 mil trabalhadores das empresas diretamente ligadas à exploração e outras 50 mil nas que trabalham indiretamente.

Crescimento da cidade
Macaé, foi, sem dúvida, o município brasileiro que mais cresceu da década de 1970 aos dias de hoje. Despreparada para os impactos derivados dos processos migratórios viu sua população crescer cerca de 440% em 36 anos, numa média anual, no período, de 12,23%, passando de 47 mil habitantes em 1974 a 206 mil em 2010, como demonstra o quadro abaixo.



— 1974 - 47.000 hab Fonte: IBGE
— 1980 - 75.851 hab
— 2000 – 132.461 hab
— 2007 - 169.513 hab
— 2010 - 206.748 hab
* Crescimento médio de 440% em 36 anos
* Média anual de 12,23% no período

Esta onda de crescimento também atinge fortemente outros municípios considerados produtores ou situados na área de abrangência, com destaque para Rio das Ostras que cresceu puxada pelo crescimento de Macaé, 190% em dez anos. O quadro a seguir mostra os municípios que mais cresceram neste período:
— Rio das Ostras – 190%
— Maricá – 66%
— Casimiro de Abreu – 59%
— Carapebus – 51%
— Quissamã – 43%
— Búzios – 48%
— Macaé – 53%
IBGE – 2000/2010

Surgimento de bairros periféricos
Foram vários os bairros sem infra-estrutura que surgiram na periferia da cidade de Macaé desde o início da exploração de petróleo na Bacia de Campos, a maioria ocupando áreas de preservação ambiental. As primeiras ocupações irregulares se deram junto à foz do rio Macaé, em área de manguezal: inicialmente as comunidades de Nova Holanda, Malvinas e Botafogo; e posteriormente, Ilha Colônia Leocádia e Nova Esperança, ressalvando que a Ilha da Caieira, também área de preservação permanente, hoje abriga um condomínio de classe média/alta, sendo a primeira ocupação na foz do rio Macaé, com exceção do centro urbano.
Destes, sofrem intervenções urbanísticas atualmente, Nova Holanda e Nova Esperança, sendo que há projeto no município para reassentamento dos moradores da Ilha Colônia Leocádia, transformada em Parque por decreto municipal, tendo em vista sua baixa ocupação em comparação com os demais – cerca de 700 moradores.
Este programa, visa, ainda, evitar o fechamento de um cinturão de adensamento populacional envolvendo os bairros já citados e que hoje sofrem com o tráfico de drogas.
A maior ocupação, entretanto, se deu no Lagomar, junto ao Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, reunindo, hoje, aproximadamente 40 mil moradores. Até o ano de 2005 havia o impedimento de obras de infraestrutura no local por estar dentro da área de amortecimento do Parque, impasse solucionado com a assinatura de um Termo de Ajuste de Conduta junto ao Ministério Público Federal. Hoje, cerca de 40% do bairro foi urbanizado, havendo a previsão de término das obras até o final de 2011.
(Ver processo de ocupação em vários bairros através de fotos de satélite da década de 1970 aos dias de hoje,na apresentação em Power Point).

Principais impactos locais
— Invasões em áreas de risco e de Preservação Permanente
— Surgimento de favelas e de bairros periféricos sem infraestrutura
— Aumento das demandas por serviços públicos
— Aumento da violência – tráfico de drogas
— Aumento do custo de vida
— Especulação Imobiliária
— Trânsito - Média de 25 mil carros e 700 caminhões/dia (atualizar)

Impactos nos serviços públicos

Saúde – Hospital Público Municipal (HPM)
— 50 mil atendimentos de urgência em 2010
— Aporte de R$ 100 milhões/2011
— Atendimento às populações de cidades vizinhas e de acidentados na BR 101
Educação
— Cerca de 3 mil novas vagas/ano no ensino fundamental
— Investimentos para manter 50 escolas em tempo integral das 116 da rede municipal
— Investimentos em ensino técnico e superior
— Manutenção de serviços de transporte universitário
Social
— Ampliação permanente da rede de assistência social
— Investimentos para implantação de restaurantes populares
— Ampliação constante de programas sociais voltados para gestantes, crianças, idosos, mulheres, dependentes químicos, moradores de rua e deficientes físicos

Infraestrutura
— Demanda por infraestrutura – Habitação, equipamentos públicos e saneamento

Outros riscos e impactos ambientais
— Vazamentos em alto mar
— Manipulação, transporte e disposição de resíduos perigosos
— Utilização de substâncias radioativas
— Impermeabilização de grandes áreas
— Desmatamento e ocupação de Áreas de Preservação Permanente
— Introdução de espécies exóticas no ambiente marinho
— Perda de identidade cultural

Impactos na pesca
— Atividade que mais sofre com a atividade offshore
— Sísmica
— Abalroamentos de traineiras
— Perda de redes
— Atração do pescado para áreas de exclusão junto às plataformas
— Descarte de resíduos orgânicos
— Pesca em área de risco
— Modificação do ambiente marinho

Projetos sociais desenvolvidos no município
Há vários anos o município de Macaé vem desenvolvendo projetos de inclusão social e fazendo frente à crescente demanda por serviços públicos na cidade. É de se destacar que o pagamento dos royalties à cidade só passou a ser significativo a partir na nova lei do petróleo em 1997, deixando um longo período de impactos sociais e ambientais sem as contrapartidas para fazer frente a eles.
Se for considerada a data de 1974 como marco para o início destes impactos, levando-se em conta que a simples notícia da instalação de grandes empreendimentos já traz aumento de preços imobiliários, como hoje já acontece em cidades como Santos e Itaboraí, podemos contabilizar nada menos do que 23 anos de defasagem.
A seguir alguns projetos e programas que foram implantados na cidade na tentativa de fazer frente aos impactos já consolidados, principalmente decorrentes dos processos migratórios.

Rede de proteção social
Segundo dados da Prefeitura local, a cidade investe 3,4 vezes mais que a média nacional na área social, representando um gasto anual de R$ 1.450 por habitante. São mais de 100 programas sociais e projetos mantidos pela Prefeitura que promovem a educação, cultura, esporte, saúde e capacidade de trabalho para a população de baixa renda.

HabitaçãoFoi apenas a partir de 2005 que o município passa a desenvolver programas habitacionais com o objetivo de suplantar seu déficit habitacional, e de desocupar áreas de risco e de preservação permanente com a remoção e reassentamento para condomínios populares. Hoje o município possui um plano municipal de habitação que abrange, ainda, o programa denominado “Macaé sem favelas”. A meta do governo municipal é viabilizar a construção de quatro mil unidades habitacionais até 2012, incluídas as unidades previstas do Programa “Minha Casa Minha Vida” do Governo Federal.

Educação
O rápido crescimento da cidade e as perspecivas com o pré-sal demandam investimentos na área de educação que extrapolam as obrigações constitucionaios de um município.
São 113 unidades municipais de ensino, das quais 25 em tempo integral e que oferecem ao aluno cinco refeições por dia. São 40 mil alunos matriculados em escolas, creches e unidades de atendimento especializado. A cidade tem, ainda, uma das menores taxas de analfabetismo do estado: 7,3%.
O ensino superior tem recebido especial atenção do poder público municipal que construiu e implantou a “Cidade Universitária” que ocupa uma área de 95 mil metros quadrados, sediando diversas universidades gratuitas.
É objetivo do governo municipal transformar a cidade em um novo pólo universitário do estado do Rio, tendo em vista projeto para a construção de mais sete blocos para salas de aula e laboratórios no local e a manutenção de uma política para a atração de outras universidades para o município.


Saúde
Com cinco anos de funcionamento, o Hospital Público Municipal (HPM) realiza cerca de 50 mil atendimentos de urgência ou emergência por ano, fazendo o atendimento de pacientes oriundos de toda a região.
O HPM dispõe atualmente de 132 leitos, distribuídos por três enfermarias (masculina, feminina e pediátrica), três serviços de terapia intensiva (adulto, pediátrico e neonatal) e uma unidade de terapia intensiva.
Em 2008, foi firmado convênio entre a Fundação Educacional de Macaé (Funemac) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), através do qual o HPM passa a funcionar como hospital-escola para alunos das faculdades de Enfermagem, Nutrição e Medicina, já implantados na Cidade Universitária.

Agricultura, pesca e turismo
Na agricultura, as principais produções do município são de feijão, aipim, inhame e banana. Macaé tem hoje o terceiro maior rebanho do Rio de Janeiro, com 95 mil cabeças de gado e 1.066 produtores. A maior concentração do rebanho está na área do Vale do Rio Macaé.
A pesca, que no passado foi a principal atividade da cidade, ainda é responsável por uma boa parte da economia. Hoje, cerca de 1,2 mil pescadores vivem da pesca no município, totalizando cerca de 15 mil pessoas que vivem direta ou indiretamente da pesca. Existem cerca de 400 barcos atuando no município. O volume de pescado por ano é de 50 toneladas/mês, em média. O pescado de Macaé é vendido para o Rio de Janeiro e mais 12 estados, além de ser exportado para os Estados Unidos e a Suíça.
Os atrativos naturais do município fazem do ecoturismo e o turismo de aventura uma alternativa econômica viável, considerando que 15% do território são ocupados pelo centro urbano, possuindo uma grande área em direção ao interior do Município praticamente inexplorada em todo seu potencial.


A atuação do movimento ambiental macaense nas décadas de 1980 e 1990
O relato a seguir, pretende resgatar informações que reconstituem alguns momentos decisivos ao longo da história do desenvolvimento da exploração de petróleo e gás na Bacia de Campos no que diz respeito às questões ambientais, ocorridos em Macaé, principal sede da Petrobras neste empreendimento.
Fundada em 1988 , a Associação Macaense de Defesa Ambiental (Amda), organizou ambientalistas que anteriormente atuavam de forma descoordenada na defesa dos interesses ambientais na região. A entidade teve atuação decisiva na elevação da consciência ambiental da população e dos gestores da época, resguardando, entretanto, sua personalidade combativa e firme na condução de seus propósitos.
Ativa numa época de pouco respeito ao meio ambiente, organizou protestos que cativaram a população, utilizando-se de ferramentas culturais, como o irreverente “Varal de Poesias”, semanalmente criado e exposto no calçadão da Praia dos cavaleiros, geralmente trazendo denúncias de ordem ambiental; o “Jornal Artenativa”, que publicava reportagens e arte em geral produzida na cidade, e que constituía uma grande rede postal da cultura alternativa brasileira existente na época; além de performances e shows temáticos com bandas e poetas locais nas praias e praças públicas.
A atuação da Amda chegou a extrapolar os limites territoriais de seu município sede, quando protocolou ação judicial, contra a CSN devido ao derramamento de ascarel no Rio Paraíba do Sul, ação que se arrastou por vários anos, ainda sem desfecho.
A partir dos anos 2000 a entidade entra num período de inatividade pela falta de renovação na militância, num momento em que as Ongs passam a ter atuação mais pragmática, já envolvidas nos projetos de educação, reparação e conservação ambiental.
Destaca-se o fato de que vários militantes do movimento ambiental chegaram a ocupar as pastas de meio Ambiente do município de Macaé. Foram os membros da Associação Macaense de Defesa Ambiental (Amda), ainda, que escreveram o capítulo de meio ambiente da Lei Orgânica municipal, aprovado na íntegra pela Câmara de vereadores. Da mesma forma ocorreu com o Plano Diretor de Macaé, que um ano após a promulgação da Constituição de 1988, ganha um texto repleto de preocupações ambientais. Estes processos se deram de forma genuinamente participativa com metodologia empregada por equipe contratada junto à Universidade de Brasília (UNB).
O movimento ambiental macaense sempre encontrara resistência na relação com as Ongs do Rio de Janeiro e região metropolitana que pautavam as reuniões da Apedema, que tem cadeira no Conama, apenas com questões relativas à sua realidade, isolando o interior. A imprensa carioca, da mesma forma, não acompanhou os impactos sociais e ambientais no desenvolvimento da produção na Bacia de Campos. Os jornais, não raro, confundiam Macaé com Magé ou Muriaé, evidenciando seu distanciamento com o interior do Estado. Foram esporádicas e provocadas as notas, matérias e reportagens dos grandes veículos sobre o assunto.

Campanha Xô Monobóia
E foram decisivas quando aconteceram. Foi, por exemplo, apenas quando a campanha “Xô Monobóia” ganhou a grande imprensa, que o movimento se tornou vitorioso. Além de mobilizar a sociedade, mobilizou a classe política atraída pelos holofotes. Só se envolveu, no entanto, quando o movimento demonstrou os impactos que poderiam acontecer em cidades como Búzios, Cabo Frio e outras situadas na região dos Lagos, onde se situam casas de veraneio de políticos e empresários poderosos.
Tratava-se de uma espécie de ancoradouro flutuante de grandes proporções que permitia aos petroleiros transferir o óleo para a Estação de Cabiúnas, situada no entorno do hoje Parque Nacional da Restinga de Jururubatiba. A estrutura estava prevista para ser instalada a apenas 3 km do Arquipélago de Santana, transformado em Parque por decreto municipal logo no início do movimento. Esta monobóia tinha porte para receber navios petroleiros de até 300 mil toneladas, transferindo esta carga diariamente.
Os riscos eram muitos. O próprio projeto previa uma possibilidade de falhas na casa dos 0,5%, o que, feito as contas, resultaria em prováveis mil e quinhentas toneladas/dia de óleo derramados no mar. O engate da monobóia com os dutos (mangote) era feito de material frágil, e isso foi provado durante o processo judicial. Fotografias fornecidas por mergulhadores profissionais participantes do movimento mostravam perfurações causadas por peixes espada em material equivalente de proporções menores, em uso na própria Bacia de Campos, junto às plataformas, e que motivaram dezenas de vazamentos de óleo.
O movimento contou com a adesão de grande parte da sociedade. Os próprios funcionários da Petrobras e terceirizadas, se filiavam à Amda fazendo denúncias e fornecendo importantes informações. Participaram do movimento além dos ambientalistas, pescadores, surfistas, sindicatos (destaque para o Sindipetro NF), associações de moradores e diversas outras entidades, além da imprensa local, através dos jornais “Folha Macaense” (extinta) e “O Debate”, e, em especial, da Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET), que aderiu ao movimento e corajosamente enfrentou a empresa empregadora de seus diretores e associados, fornecendo subsídios técnicos ao movimento e participando ativamente dele.
Destaca-se, ainda, a participação da Feema, que através de seu representante na região, mostrou o caminho a ser tomado pelo movimento para respaldar a entidade no confronto com a maior empresa brasileira, num período em que a legislação ambiental não olhava para a produção offshore do petróleo e não havia comprometimentos sociais ou ambientais por parte das empresas.
Ao final do processo, a obra foi embargada e a Petrobras desenvolve toma o caminho dos dutos terrestres para escoar sua produção a partir deste momento.
Constituída em sua maioria por jornalistas, a entidade povoou o noticiário da imprensa local e regional com denúncias de todo o tipo. Os vazamentos eram rotineiros. Os acidentes também.
Na época corria-se atrás da autossuficiência nacional do petróleo. O avanço para águas profundas foi uma aventura de custo social alto, até que a Petrobras desenvolvesse e implementasse as tecnologias, procedimentos e capacitação necessários para a minimização dos riscos nas operações de prospecção e transferência de óleo. Hoje vemos a mesma pressa na exploração do pré-sal, esta, entretanto, determinada pelo avanço das tecnologias alternativas aos combustíveis fósseis.

Mobilização pode ter evitado tragédia ambiental
Os vazamentos ocorridos nas plataformas da Bacia de Campos, entretanto, nunca chegaram às praias macaenses, protegidas pelas correntes marítimas, que sempre levaram estas manchas para o alto mar. Os relatos de acidentes feitos por funcionários embarcados eram freqüentes. E não havia estrutura de fiscalização que pudesse comprová-los. Mas mesmo assim, eram denunciados e noticiados, preservadas as fontes.
A resistência ao rolo compressor do petróleo em Macaé foi intensa nas décadas de 1980 e 1990, e o cenário, hoje, poderia ser muito pior do que o atual.
Na pior das hipóteses, por exemplo, se instalada a monobóia junto à costa macaense, todo o turismo poderia ser inviabilizado na região dos Lagos, com a poluição de suas praias, com risco maior para Búzios em função de sua situação geográfica. Para não falar nos prejuízos para a pesca e para o meio ambiente com a destruição dos manguezais e dos demais ambientes costeiros.
Mas como não se contabiliza o que deixou de acontecer, fica esta informação com o intuito de mostrar que não houve passividade ou imobilismo da sociedade macaense e da região produtora diante da trajetória da exploração na Bacia de Campos responsável por 86% da produção nacional de petróleo.


Planejamento com foco nas cidades
A experiência da Bacia de Campos já reúne subsídios suficientes para um planejamento mais inteligente e responsável, para que não se arruínem atividades econômicas tradicionais, não se formem bolsões de pobreza nos municípios produtores, não se degrade o meio ambiente, e nem exclua o cidadão comum dos benefícios desta atividade.
Um problema grave no sistema de licenciamento brasileiro quando se trata de um mega empreendimento como o pré-sal, é que ele analisa separadamente cada instalação, não havendo um mecanismo que faça a gestão do processo como um todo. Um mega empreendimento como a exploração do pré-sal deve contar com um olhar macro que analise todo o universo de desdobramentos sobre a sociedade, e que resulte num sistema de gestão abrangente.
Está passando desapercebido que o conjunto de empreendimentos que possibilitarão a exploração do pré-sal, forma um novo empreendimento de características absolutamente peculiares com relação às atividades que o compõem, com grande impacto regional, e que deve ser gerido separadamente.
Não há instrumento legal hoje no Brasil que garanta este tipo de gestão, a exemplo do que ocorreu na Bacia de Campos onde o único planejamento que houve foi o relativo à produção deixando de fora aspectos relevantes como os impactos nos municípios provocados pelos processos migratórios, desemprego, especulação imobiliária, aumento do custo de vida e da demanda por serviços públicos, crescimento desordenado e a retração da atividade pesqueira, experiência que reúne subsídios que devem ser considerados em um, infelizmente improvável, planejamento estratégico do pré-sal.
Da mesma forma como aconteceu com a Bacia de Campos nas últimas décadas, com os municípios a reboque de decisões estatais e empresariais sem nenhuma ingerência nos fatos, está acontecendo com o pré-sal, apesar de contar com disponibilidade de tempo para os planejamentos e adequações necessários, atualmente desperdiçado com polêmicas infrutíferas como as que têm sido travadas a respeito dos royalties.
Deixar por conta do mercado já provou que não é uma boa solução considerando as maldições já constatadas da cadeia produtiva do petróleo. Mas quem conduziria esta hercúlea tarefa? Ainda não sabemos, talvez o Ministério das Cidades. Uma coisa é certa, entretanto: precisa ser conduzida por uma instância superior,empoderada, independente e representativa, que agregue as mais plurais participações, envolvendo a sociedade civil organizada, os municípios, os estados, as empresas e as universidades das regiões envolvidas.
Tarefa difícil, seja pela incompreensão de sua necessidade ou pela falta de uma cultura participativa. Porém mais fácil do que lidar com problemas como os que aconteceram no golfo do México, ou os que já se consolidaram nos municípios produtores e que tenderão a se repetir nos mais de cem municípios litorâneos da área de abrangência do pré-sal.

Pesca – a atividade mais impactada
A pesca foi a atividade econômica que mais sofreu com a exploração de petróleo e gás na Bacia de Campos nas últimas três décadas. Um olhar mais minucioso sobre a convivência desastrosa entre as pequenas traineiras e os super-petroleiros e rebocadores na Bacia de Campos, certamente captará um cenário que não pode se repetir na tão promissora exploração da Camada do pré-sal nas bacias de Santos, Campos e Espírito Santo, cuja extensão chega a 800 km de mar piscoso e historicamente explorado por pescadores artesanais.É preciso identificar os reais efeitos da sísmica no comportamento dos cardumes e minimizar este impacto tão prejudicial aos pescadores. Além dos desafios tecnológicos para a retirada de petróleo e gás de áreas tão profundas, há os desafios para evitar que os peixes desapareçam das áreas onde os testes sísmicos são realizados; para que sejam controladas e evitadas as invasões de espécies exóticas que devastam os ecossistemas onde são inseridas; para que as plataformas de petróleo em operação não se transformem em atratores pesqueiros com o sombreamento e o descarte de resíduos orgânicos, praticamente convidando as traineiras a ingressarem nas perigosas áreas de exclusão junto às plataformas em alto mar.
É preciso recuperar os manguezais no continente e formar pesqueiros induzidos fora da rota offshore. É preciso criar áreas de exclusão também para as embarcações de apoio. É preciso organizar os pescadores. É preciso repensar o descarte de resíduos orgânicos pelas plataformas e embarcações em alto mar, permitido por norma internacional, mas que têm provocado impactos aqui e por isso deve ser mudado.
Estes são apenas alguns dos desafios para que a exploração do pré-sal seja realmente lucrativa para a sociedade brasileira, muito mais importantes do que os royalties e participações especiais, atualmente em barganha.O pescador artesanal que tradicionalmente sempre pescou nas águas da Bacia de Campos, foi a classe que mais perdeu com a busca desenfreada pela auto-suficiência nacional de petróleo desde a década de 1980. Ele não só já viu esse filme como atuou nele como o personagem que apanha o tempo todo. Como essa história ganha um novo capítulo com a descoberta das reservas do pré-sal, ainda há esperança de que esse personagem não morra no final.

Ações de planejamento propostas
Apresentamos, a seguir, o resumo de uma série de propostas identificadas e colhidas ao longo do processo de desenvolvimento da Bacia de Campos, em debates, conversas, seminários, conferências, audiências públicas e fóruns, numa espécie de grande reflexão sobre diversas iniciativas não implantadas e que resultaram nos impactos hoje observados em Macaé e demais municípios produtores e que projetamos para o futuro, no caso, a exploração do pré-sal.

Planejamento global
— Gestão macro do processo.
— Plano Diretor para a exploração do Pré-sal.
— Processo participativo – Organização de Conferências.
— Segmentos – Petrobras, empresas, Poder público nas três esferas, Sociedade Civil, Academia, Instituições ambientais etc.
— Experiência da Bacia de Campos como ponto de partida.

Empresas
— Maior envolvimento com as cidades onde estão instaladas.
— Responsabilidade Social – Projetos consistentes e estruturantes complementares às ações governamentais.
— Situação atual – ações dispersas, geralmente restritas ao cumprimento de exigência legais ou relacionadas ao licenciamento, quando existentes.
— Inserção de mão-de-obra local – Política de qualificação profissional antecipada.
— SGAs, auditorias ambientais.

Poder Público
— Implementação, revisão e regulamentação dos planos diretores municipais – nivelamento legal.
— Zoneamento Costeiro.
— Proteção de áreas sensíveis.
— Estruturação dos sistemas municipais de meio ambiente.
— Licenciamento ambiental municipal – descentralização com controle.
— Representação do órgão estadual licenciador em municípios chaves.
— Dimensionamento das redes de ensino e de saúde em conformidade com as previsões de crescimento.
— Gestão regionalizada: formação de consórcios, comitês e associações.
— Fomento à produção de mudas de espécies nativas.
— Recursos para implementação dos programas indicados (Royalties das três esferas).
— Fomento de empreendimentos sustentáveis alternativos ao petróleo.
— Fomento à pesquisa.
— Planejamento de bairros e condomínios.
— Programas habitacionais.
— Qualificação da gestão e implementação de programas de qualificação profissional.
— Aperfeiçoamento da fiscalização em mar pelos órgãos competentes.
— Concursos públicos para corpo técnico dos órgãos ambientais.
— Capacitação de conselhos e outros institutos participativos.
— Política para controle de invasões e monitoramento de processos migratórios
- Fiscalização – Capacidade de pronta ação.
- Monitoramento de rodoviárias e postos para orientação aos visitantes.
- Política de orientação legal ao cliente em imobiliárias, cartórios e lojas de
material de construção.
- Campanhas educativas.

Universidades e Centros de Pesquisas
— Levantamento ambiental cooperativo na área do pré-sal.
— Pesquisas para impactos pontuais previstos.
— Formação de banco de dados.
— Consolidação de pesquisas existentes.

Ações voltadas para a pesca
— Criação de unidades extrativistas marinhas.
— Inclusão de espécies comerciais nas pesquisas sobre os efeitos da sísmica.
— Desenvolvimento de amplo e contínuo estudo ambiental em toda a área do pré-sal.
— Investimento em equipamentos e embarcações, implantação e ampliação de estaleiros de barcos de pesca artesanais.
— Programas de qualificação e de incentivo ao cooperativismo.
— Estruturação de cadeia produtiva.
— Recuperação de manguezais.
— Definição das rotas para as embarcações de apoio às plataformas, criando uma área de exclusão também para estas embarcações, em proteção à atividade pesqueira.

Síntese
Diferentemente do que ocorreu com a Bacia de Campos, é possível desenvolver um planejamento para a exploração do pré-sal levando em conta os impactos sofridos pelos municípios produtores nos últimos 30 anos.
Este planejamento deve ser conduzido de forma participativa, com contexto regional e focado no desenvolvimento da qualidade de vida das populações das cidades envolvidas.

Dados resumidos do autor
Fernando Marcelo Manhães Tavares, jornalista, ambientalista e Gestor Ambiental, nascido em Niterói, morando por vários anos em Brasília, transferindo-se para Macaé em meados da década de 1980 a partir de quando se engajou nos movimentos ambiental e cultural da cidade e região.

Histórico de atividades e funções
Fundador do Partido Verde em Macaé (RJ). Fundador e diretor da Associação Macaense de Defesa Ambiental (AMDA). Fundador e diretor da Associação de Imprensa do Distrito Federal (AIDF). Correspondente da Agência Brasileira de Notícias (ABN). Editor da Revista Meio & Ambiente. Editor da Revista Séculus. Editor do Jornal Artenativa. Participante do movimento literário independente brasileiro nas décadas de 1980 e 1990. Vice-Presidente da Agenda 21 Macaé. Presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente e do Conselho da APA do Sana (Macaé). Presidente da Comissão Organizadora da I Conferência Municipal de Meio Ambiente. Organizador da Feira de Educação Ambiental Macaé Sempre Verde, a primeira feira do gênero do Estado do Rio. Secretário de Meio Ambiente e de Comunicação de Macaé. Finalizando curso de Gestão Ambiental na Universidade Estácio de Sá.
Atualmente presta consultoria nas áreas de comunicação e meio ambiente e administra o Portal de Informações do pré-sal - http://www.pre-sal.info/


Fontes e referências
— Portal da Prefeitura de Macaé - Secretaria de Comunicação Social – www.macae.rj.gov.br
— Artigo “O Pré-sal e o Meio Ambiente” publicado no Jornal do Brasil - 2008 – Fernando Marcelo Tavares
— Artigo “O Pré-sal e a Pesca”, publicado nos sites “Envolverde” e “Gente Praias” – 2010 - Fernando Marcelo Tavares
— Artigo “Lições para o Pré-sal” publicado no Globo On Line – 2010 – Fernando Marcelo Tavares
— Deliberações da I Conferência Municipal de Meio Ambiente - 2005
— Arquivos da AMDA – Associação Macaense de Defesa Ambiental
— Fotos da apresentação: Rômulo Campos, Luiz Bispo, Kaná Manhães
— Imagens de Satélite da apresentação: Geo Macaé - Coordenadoria do Gabinete de Gestão Integrada – GGI
— IBGE – Dados populacionais