quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O Pré-Sal e o Meio Ambiente

O debate que se aprofunda sobre a destinação dos recursos advindos da exploração das camadas do pré-sal no litoral sul/sudeste ainda não abordou um ponto muito importante em toda esta discussão: a questão ambiental. Ou seja, num momento em que se sabe que é preciso minimizar o aquecimento global através de adoção de técnicas limpas e sustentáveis, investindo-se em fontes de energia alternativas em substituição aos combustíveis fósseis, surgem, das profundezas, 40 bilhões de barris de petróleo, cujas emissões correspondentes estarão na atmosfera nos próximos anos, alimentando ainda mais o ciclo do aquecimento global.

Impensável, com as novas posturas empresarias diante da questão ambiental, em especial da própria Petrobras nos dias de hoje, que não se considere os custos ambientais da exploração e os contemple na contabilidade geral dos custos, investimentos e repartições. Mais especificamente, neutralizar todo o carbono que gerar na exploração do pré-sal, com a logística operacional e com potencial poluidor do próprio petróleo produzido. Investindo-se em tecnologias limpas, estruturando novos procedimentos, e plantando árvores, bilhões de árvores necessárias à neutralização e que nossos mananciais hídricos agradeceriam muito, aliás, insumo sem o qual não se explora coisa alguma em lugar nenhum.A discussão sobre onde aplicar os lucros é grande.

Como se estivéssemos diante do gênio da lâmpada tendo que escolher um desejo, no caso o da inclusão social e cultural que uns entendem deva ser feito através da educação, outro da saúde e mais um que quer ver os recursos investidos em habitação. Discussão justa e interessante, até mesmo para percebermos as dimensões exatas de nossas misérias.Mas, é preciso re-arrumar bois e carroça. Primeiro os custos, depois, se viável, os lucros. Assim, investimentos em logística e infra-estrutura nas localidades operacionais, pagamentos de royalties preferencialmente às cidades impactadas, a neutralização do carbono, além do planejamento estratégico participativo nas regiões envolvidas, devem ser prioritariamente garantidos.

A exploração do pré-sal não pode repetir o erro do passado que impactou demasiadamente cidades como Macaé, que de uma hora para outra envolveu-se num turbilhão transformando-se, da bucólica "Princesinha do Atlântico" à província petrolífera que dá suporte para a produção de 86% da produção nacional de petróleo.O planejamento que faltou na implantação da Bacia de Campos não pode faltar no Pré-sal. Tem a questão grave da pesca, a atividade mais impactada pela produção off-shore de petróleo e gás. É preciso recuperar os manguezais no continente e formar pesqueiros induzidos fora da rota offshore. É preciso organizar os pescadores. É preciso repensar o descarte de resíduos orgânicos pelas plataformas e embarcações em alto mar, permitido por norma internacional, mas que têm provocado impactos aqui e por isso deve ser mudado. Tem a questão da mão-de-obra e da atração de pessoal desqualificado, e o conseqüente surgimento de favelas em áreas de risco e de preservação ambiental. É preciso garantir que o desenvolvimento se dê de forma distributiva em várias regiões simultaneamente.Estas demandas não são miçangas, nem devem ser substituídas por projetinhos pra inglês ver nas revistas de responsabilidade social. São custos operacionais prioritários com referência consolidada.

Feito isso, noves fora, aí sim, deve-se passar à discussão de como vai ser usado o excedente para minimizar o sofrimento do povo brasileiro, que merece desfrutar deste tesouro. Se abaixando o preço da gasolina, investindo-se em educação, saúde, habitação, esporte para todos ... carências não faltam para serem supridas.Ilusão achar que o Pré-sal vai resolver todos os problemas. Não vai. Por isso este impasse diante do gênio. Tirar de mil, um só desejo.

Um comentário:

Movimento Ônibus Já! disse...

Muito importante essa abordagem. Tem havido inúmeros debates organizados pelos próprios petroleiros, debates importantes sobre a importância de tomarmos as rédeas do controle de nossos recursos naturais estratégicos. Sim é uma questão de soberania. Sim é preciso tomar cuidado com as sofisticadas maneiras de ususurpação postas em prática pelas multinacionais. Mas temos que tomar cuidado para não pormos a carroça na frente dos bois. Nesses tempos de desajustes climáticos, de intenso envenenamento do ar e da água por fumaça e por óleo, nesses tempos em que a internet nos deixa saber que existem descobertas e invenções que propõem alternativas energéticas limpas. Nesses tempos em que o acesso às informações está desmascarando a periculosidade da ganância capitalista à humanidade, nesses tempos, não mais podemos pensar em explorar machucando, destruindo, deteriorando a natureza - a nossa maior riqueza, irreproduzível. A busca por riquezas, por poder, pela realização imediata de nossos desejos e prazeres não mais pode ser posto acima dos direitos essenciais dos que ainda nascerão, nossos próprios descendentes. A exploração do Pré-Sal deve se dar em novos marcos de responsabilidade sócio-ambiental.