quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Macaé perde mais um filho ilustre

Guarasil Tavares deixa legado de inquietação, conhecimento e lucidez. Família editará livro com seus quase 200 artigos e crônicas

Faleceu na semana passada, aos 80 anos, um dos mais ilustres filhos adotivos de Macaé, Guarasil Coelho Tavares, psicólogo, economista, músico e escritor, que no ano de 1980, escolheu Macaé para viver sua vida de aposentado, pendurando a gravata e a calça comprida depois de quase 30 anos trabalhando no Banco do Brasil, 20 deles no Gabinete da presidência da Instituição no Rio de Janeiro e em Brasília.

Guarasil era uma espécie de Google pré-internet para todos os seus amigos, que sempre recorriam ao seu conhecimento enciclopédico para sanar dúvidas e pedir conselhos. Era figura disputada para prosa das boas nos tempos dos barzinhos pé sujo e estrada de terra nos Cavaleiros.

Era um apreciador do bom português, tendo no conhecimento do Latim uma ferramenta poderosa para as questões gramaticais mais complexas. Acompanhava a evolução da língua como leitor compulsivo de jornais, e mais recentemente, também como pesquisador dentro da grande rede. Seu senso crítico, entretanto, não suportava exageros como a insistência da “presidenta” em assim ser chamada.

Diariamente fazia uma copidescagem rápida nos diversos jornais que lia, assinalando erros de português e de apuração dos jornalistas, como uma espécie de exercício do próprio conhecimento e do de seu senso crítico.

Mas ele tinha dentro de si outra grande arte que a aposentadoria lhe permitiu desenvolver: a música, sonho que sempre nutriu e que realizou na Sociedade Musical Lira dos Conspiradores, onde tocou flauta transversal e clarinete, integrando aquela banda em várias apresentações, concursos e gravações no Museu da Imagem e do Som.

Guarasil tinha uma mente indócil. Logo que chegou a Macaé, comprou livros de eletrônica e transformou a garagem de sua casa numa oficina onde construiu brinquedos pra os netos e consertou gratuitamente eletrodomésticos da vizinhança.

Tempos depois abandona a eletrônica e passa a estudar orquídeas por conta própria, transformando seu jardim num orquidário, onde praticava diversos tipos de experiências e cruzamentos entre espécies, mantendo correspondência com especialistas de todo o País.

E, finalmente, a música, que passa a consumir boa parte de seu tempo através dos estudos e ensaios em casa e na Banda.

Ultimamente, vinha redigitando e, provavelmente, aperfeiçoando, as dezenas de artigos e crônicas que publicou na imprensa macaense nas décadas de 1980 e 1990, na Folha Macaense, no jornal Artenativa, no Macaé Jornal e no “O Debate”.

Deixou digitado cerca de 200 textos, muitos deles inéditos, onde investiga o comportamento humano, sob a luz da cultura e da psiquê, alternando erudição e simplicidade, e que deverão ser reunidos num livro em breve.

Dono de uma lucidez invejável, tinha na debilidade de sua saúde física, seu grande ponto fraco. Enfrentou um câncer na laringe, perdendo a voz como consequência; a surdez; a visão que vinha se debilitando; a diabetes; a hipertensão; e uma hérnia abdominal que se avolumava; foram inimigos que enfrentou até quando pôde e que já começavam a encarcerar sua sabedoria.

Seu legado está nas lembranças de todos os que o conheceram e conviveram com sua genialidade e a irreverência que também fazia questão de cultivar. Um anarquista em essência.

Certa vez, indignado por ter que usar uma calça comprida para ir ao Fórum, numa audiência com o juiz, comentou na ante-sala com amigos. “Botei calça comprida, mas em compensação vim sem cueca”.

Guarasil deixa viúva, filhos, netos, bisnetos e uma legião de amigos órfãos de sua sabedoria e amorosidade.



Não havia mais corpo

pra tanta alma

tanta mente

pra tanto coração

tanta lucidez encarcerada



e enfim ...

e chegado o momento

em que a vida voa



Adeus meu pai, meu mestre!





Fernando Marcelo Tavares



terça-feira, 22 de novembro de 2011

Estudo ambiental subestimou pressão dos reservatórios

O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) encaminhado ao Ibama pela Chevron para a licença de operação no Campo de Frade em 2007 mostra que não foram detectadas “zonas de pressão anormal ou de alta pressão”, fornecendo os valores de 8,5 a 8,7 ppg (pounds per gallon) como as variáveis dos gradientes de pressão utilizados como parâmetros para a Empresa nos cálculos para controle da perfuração no poço que provocou o vazamento.


O presidente da subsidiária brasileira da Chevron, George Buck, admitiu que a empresa errou ao subestimar a pressão do reservatório de petróleo que atingiu com o novo poço exploratório em Frade (poço 9-FR-50DP-RJS) e superestimou a solidez da formação rochosa no fundo do mar. "Subestimamos a pressão no reservatório. Era mais alta do que esperávamos. O peso da lama foi programado para outra pressão" afirmou.

O petróleo vazou por meio do poço que estava sendo perfurado, migrou para as rochas por meio de fissuras nas paredes do poço e aflorou no fundo do mar, atingindo a superfície da água e formando as grandes manchas.

O estudo refere-se às fissuras nas paredes dos poços por onde podem ocorrer vazamentos e a utilização de lama como uma espécie de reboco no poço, cujo peso específico deve ser calculado, levando em conta, ainda, a capacidade de suporte de pressão das rochas que formam as paredes do poço.
Além do erro de cálculo, ocorreu uma demora excessiva, admitida por George Buck, no envio dos equipamentos de combate ao acidente e da lama pesada usada para interromper o vazamento, utilizando as instalações da Petrobras em Macaé para estas operações, sendo que não havia disponibilidade da lama que teve que ser transportada do Rio de Janeiro. (pre-sal.info - Fernando Marcelo Tavares)







Estas e várias outras falhas no combate ao acidente do Campo de Frade, a começar pela detecção do vazamento, feita pela Petrobras e não pela Chevron que operava o poço acidentado, condena o plano de contingência da empresa e põe sob suspeição a capacidade das empresas que operam em águas profundas e dos órgãos de fiscalização em lidar com as emergências nos campos petrolíferos brasileiros.

Estudo aponta instabilidade do fundo submarino do Campo de Frade

O estudo informa, ainda que o fundo submarino em alguns locais da área explorada pela Chevron pode ser instável, sujeito a deslizes e desmoronamentos em cânions submarinos e paredes íngremes e na parte noroeste do Campo, às margens de Cânions e em áreas vizinhas das depressões largas.

Apesar de identificar diversas falhas no solo marinho, o estudo não previu o risco de liberação de óleo por meio de fissuras no solo submarino, como revelado pelo Diário da Costa do Sol em 16 de novembro, simulando a ruptura do casco da FPSO e o conseqüente vazamento de todo o óleo armazenado, como o pior cenário de um acidente com vazamento, mas mesmo assim, considerado como de média magnitude.





sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Vazamento: e os pescadores que se danem ....


Chevron ignora prefeituras e colônias de pesca, deixando sem informação milhares de pescadores que trafegam pela região por onde se espalha a mancha.

Desde a descoberta do vazamento de óleo no Campo de Frade na Bacia de Campos no dia 8 e seu primeiro comunicado no dia 9 de novembro, nenhum comunicado oficial foi feito às colônias de pescadores e secretarias municipais de meio ambiente e pesca das cidades litorâneas da área de influência do empreendimento, sobre o problema. Nenhuma nota do Ibama, da ANP, da Marinha e da Chevron, a respeito do vazamento ou contendo orientações aos pescadores com relação ao posicionamento da mancha de óleo.

O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) que fundamentou o licenciamento do Campo de Frade, prevê o compromisso da empresa estabelecer um canal de comunicação com os municípios litorâneos, em especial com os pescadores, usuários da área afetada.

O Documento, refere-se a um programa que “ define diretrizes e implementa ações para estabelecer um canal de comunicação entre a Chevron e as comunidades litorâneas, com especial atenção ao segmento pesqueiro, já que este possui maior interface com a atividade em decorrência do uso do espaço marítimo”.

Desde o primeiro anúncio do vazamento no dia 9 de novembro, feito na Dow Jones em Nova York, bem longe de São João da Barra ou São Francisco de Itabapoana, nenhuma satisfação foi dada a quem mais interessava saber: os pescadores.

O subsecretário de Pesca de Macaé, José Carlos Bento, confirma não ter recebido nenhum comunicado da Chevron, Ibama, ANP ou Marinha sobre o vazamento ou posição da mancha para orientação aos pescadores, e reclama: “Além do impacto no ecossistema marinho, tem o tempo em que o pescador terá que ficar afastado desta área, muito usada para a pesca. É preciso considerar isso para mensurar os danos”.

O presidente da Colônia de Pesca Z-3, sediada em Macaé, Marcelo Pereira, também confirma não ter recebido nenhum comunicado oficial sobre o vazamento, “nem mesmo os tradicionais “alertas aos navegantes”, que invariavelmente informam os locais onde estão sendo realizados testes sísmicos. A Colônia Z-3 tem 1800 associados possuindo em seu cadastro, cerca de 350 embarcações de pesca.

Também ficaram sem informações as colônias de Pesca Z-1 e Z-2, de São Francisco de Itabapoana e São João da Barra, respectivamente, áreas mais próximas ao local do vazamento.

“Eles não procuram a gente para nada. Esta mancha é o triplo do que estão falando. Alugam o mar, e o pescador tem que ser afastado”, protesta o pescador William Pereira, presidente da Colônia de Pesca Z-2 de São João da Barra. “Temos 60 barcos de pesca do Dourado parados. E tem, ainda, o problema da contaminação dos peixes”, alerta.

Já o presidente da Colônia de Pesca Z-1, de São Francisco de Itabapoana, José Geraldo Soares, informa ter entrado em contato com a Chevron por iniciativa própria. “Como não informaram nada, fui atrás, já que este vazamento está acontecendo em nossa maior área pesqueira. Quero receber informações. Quero saber de tudo”, exige. Estão associados à Colônia Z-1, 600 barcos de pesca que praticam a captura do camarão Sete Barbas, a pesca de linha e espinhal em alto mar. (Fonte: Fernando Marcelo Tavares – pre-sal.info)



Municípios da Área de Influência do Campo de Frade

- Niterói, no Rio de Janeiro, por ser o município onde se localizará as Bases de

Apoio.



- São João da Barra, Campo dos Goytacazes, Quissamã, Carapebus, Macaé,

Rio das Ostras, Cabo Frio, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Araruama e

Saquarema, no litoral Norte do Estado do Rio de Janeiro por serem potenciais

áreas afetadas no caso de um vazamento de óleo em grandes proporções.



- Itapemirim, no Estado do Espírito Santo, São Francisco de Itabapoana, São

João da Barra, Macaé, Cabo Frio, e Niterói, no Estado do Rio de Janeiro por

possuírem frotas pesqueiras que atuam na AID, e estarem sujeitos a

interferências em suas atividades pesqueiras.



- Cabo Frio, Búzios, e Arraial do Cabo, também por serem sujeitos a

interferência com suas atividades de recepção de cruzeiros marítimos, no caso

de um vazamento de óleo em grandes proporções.



- Presidente Kennedy, São Francisco de Itabapoana, São João da Barra e

Campos, por estarem sujeitos ao recebimento da maior parte da distribuição

municipal dos royalties gerados pela atividade de produção

Chevron fez lambança na África e na Amazônia

Assim como algumas das maiores companhias de extração de petróleo do mundo, a Chevron acumula um histórico de acidentes polêmicos. Em 2002, a empresa foi a primeira grande multinacional multada por um país africano por danos ao meio ambiente graças a um vazamento na costa de Angola. A maior polêmica, no entanto, aconteceu bem perto do Brasil. No Equador, a Chevron foi condenada a pagar uma multa recorde de US$ 9 bilhões de dólares pelo despejo de milhões de barris de produtos químicos na Floresta Amazônica.

Até hoje a empresa se recusa a pagar a quantia e se diz vítima de um julgamento injusto na corte equatoriana. O incidente inspirou o aclamado documentário "Crude", dirigido por Joe Berlinger.

Sujaram o mar e mataram a informação

Qual o real tamanho do problema no caso do vazamento no campo de Frade? A mancha de óleo pode chegar ao litoral? Como é essa fissura de 300 metros, por onde vaza o óleo? Mil ou 3.700 barris por dia? O vazamento diminuiu ou aumentou?

Como se nota, nesta história do vazamento do campo de Frade há mais desinformação do que informação. Foram constantes as divergências entre os dados divulgados pela Chevron, ANP, IBAMA e agências de notícias governamentais, desde o primeiro comunicado no dia 9 de novembro. A empresa chegou a divulgar nota informando que o vazamento estava reduzido a um “gotejamento ocasiona”l. A história estava sendo tão mal contada que Polícia Federal acusou a empresa de mentir e abriu inquérito para apurar danos e responsabilidades.

As dúvidas e desconfianças a cada comunicado divulgado cresceram e começam a tomar forma de indignação, e preocupam, porque revela um comportamento furtivo e de poucas palavras da empresa, próprio de quem está sob pressão e se prepara para uma guerra judicial.

Preocupa, ainda mais as projeções divulgadas pela Ong Sky Thrut, especializada em análise de imagens de satélite, de 15 mil barris já vazados, com uma vazão diária de 3.770 barris; a revelação de que a fissura provocada pela perfuração é na verdade uma fenda gigante de 300 metros ou mais; e a conseqüente dificuldade em vedar uma abertura destas dimensões no subsolo oceânico, a 1200 metros de profundidade.

E aí, é inevitável que nos assombre o fantasma de Macondo, o terrível vazamento no Golfo do México protagonizado pela BP em 2010, trazendo séria reflexão sobre os riscos da exploração intensiva em águas profundas. E nos faz lembrar do péssimo histórico da Chevron em Angola e na Amazônia Equatoriana.

Pensando positivamente, podemos afirmar que mesmo que este vazamento cesse agora, e não produza maiores impactos ambientais, já contribuiu para a implementação de parâmetros mais rigorosos para a concessão de licenças ambientais para novas atividades do gênero em especial no pré-sal. Pelo menos é o que se espera. Abrolhos agradeceria muito, já que está autorizada a exploração a 50 km daquele santuário ecológico.

Por não ter previsto a possibilidade de vazamentos oriundos de exsudação (migração do óleo de um lugar para o outro no subsolo oceânico) através de fissuras provocadas pelo processo de perfuração, o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) do Campo de Frade deveria ser revisto e aperfeiçoado, ficando sob suspensão a licença de operação concedida. O Ibama deveria, ainda, depois de aperfeiçoar seus parâmetros revisar todos os empreendimentos exploratórios licenciados nas bacias de Campos, Santos e Espírito Santo.

Ah! E dar uma melhorada na comunicação, ponto fraco de todos os envolvidos neste lamentável episódio. Sujaram o mar e mataram a informação! (Fernando Marcelo Tavares – pre-sal.info)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Estudo ambiental do Campo de Frade não previu vazamento “natural”




O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) das operações de perfuração e produção no campo de Frade na Bacia de Campos apresentado ao IBAMA pela Chevron para a obtenção das respectivas licenças ambientais, não menciona a possibilidade de um vazamento diretamente do subsolo oceânico, derivado de exsudação (migração do óleo de um lugar para o outro) como o que ocorreu no dia 9 de novembro, e ainda não foi contido.

O estudo menciona como pior cenário de um acidente com vazamento a ruptura do casco da FPSO com o vazamento de todo o óleo nele armazenado, cerca de 250 mil m3, simulando diversas possibilidades de locomoção da suposta mancha de óleo cru.

São mencionados como municípíos dentro da área de influência do Campo de Frade, Presidente Kennedy (ES), São João da Barra, campos, Quissamã, Carapebus, Macaé, Rio das Ostras, Casimiro de Abreu, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo,,Cabo Frio, Araruama e Saquarema (RJ). Estas são as cidades que estariam sob risco maior em casos de vazamento.de óleo.

Dos possíveis impactos previstos pelo estudo, há o econômico nas comunidades costeiras dependentes da pesca e do turismo litorâneo, citando em especial a movimentação de transatlânticos em Cabo Frio, Arraial do Cabo e Búzios, e o ambiental propriamente dito atingindo uma fauna delicada usuária da região, como as baleias Jubarte e diversas espécies de tartarugas marinhas.

O EIA (Estudo de Impacto Ambiental é o estudo que possibilita o licenciamento do empreendimento e prevê todas as possibilidades de riscos e acidentes, apontando as áreas de influência direta e indireta, e indicando as ações preventivas e de mitigação necessárias.






Vazamento continua. ANP responsabiliza Chevron

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), informou nesta segunda-feira que determinou à Chevron o abandono dos trabalhos de perfuração próximo ao ponto do vazamento. A Agência concluiu que há relação entre as atividades de perfuração na área e o vazamento descoberto no último dia 9 e comunicado ao IBAMA e À ANP no dia 10 de novembro. "O que foi detectado é que com a perfuração houve aumento de pressão em algum ponto e houve essa fissura na rocha que fez com que o óleo vazasse", informou à Reuters o diretor da ANP, Florival Carvalho, que confirmou o início dos trabalhos para a cimentacão do poço.

As informações sobre a vazão diária do vazamento são contraditórias e inexatas. A ANP fala em 700 barris derramados estando a mancha a 200 km da costa. Já a Agência Brasil divulgou o número de 400 barris por dia de petróleo engrossando uma mancha de 163 km2 que estaria a 120 km da costa.

Desde o primeiro comunicado feito à imprensa internacional, a Chevron vem insistindo na tese de “vazamento natural” sem relação com as atividades da empresa, o que foi derrubado com a informação da ANP de que o incidente está relacionado a atividades de exploração.
Um dia após o comunicado do vazamento, a presidente Dilma Rousseff pediu uma profunda investigação do incidente, o que deve aumentar a rigorosidade nos estudos de impacto e nas medidas preventivas relacionadas à exploração do pré-sal. (Fernando Marcelo Tavares)