Série Jurubatiba
Considerado o Parque nacional mais estudado do Brasil, o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba já possibilitou mais de uma centena de pesquisas realizadas por universidades de todo o mundo. São pesquisas com nomes complicados quase impronunciáveis, mas que produziram resultados surpreendentes como a descoberta de espécies desconhecidas pela ciência, ou que revelaram novas informações sobre a resistência dos organismos às mudanças climáticas, assunto de extrema importância em tempos de aquecimento global.
Atualmente estão em andamento 32 pesquisas dentro do Parque, todas devidamente autorizadas pela direção da unidade, que informa ter desburocratizado o processo de autorização, que pode ser emitida em menos de 10 dias.
Apenas a UFRJ, através do Núcleo de Pesquisas Ecológicas de Macaé - Nupem - é responsável por pelo menos metade delas conforme explica o coordenador de Pós-graduação em Ciências Ambientais e Conservação da Universidade, Professor Pablo Gonçalves. “Estamos envolvidos no que chamamos de Pesquisa Ecológica de Longa Duração relacionada ao funcionamento do ecossistema de restinga, e ao comportamento dos organismos diante de variações climáticas”, explica o Professor que coordena as pesquisas referentes aos mamíferos do Parque de Jurubatiba.
“A idéia é tentar compreender como a restinga de Jurubatiba ajuda na regulagem do clima, sua importância no ciclo do carbono, a mensuração dos serviços ambientais prestados pela restinga, a valoração do patrimônio biológico – muito importante em tempos capitalistas - e o estabelecimento de parâmetros para a recuperação de áreas degradadas de restinga, bem como a recuperação de lagoas costeiras impactadas pela atividade humana”.
Segundo Pablo, as pesquisas comuns, geralmente, têm duração máxima de cerca de dois anos, enquanto que as de longa duração, também chamadas de PELD, podem chegar a dez anos de trabalho. São diversas equipes que realizam suas pesquisas focadas em grupos específicos como aves, mamíferos, vegetação, aranhas e insetos, águas, peixes e divulgação científica, podendo cada grupo merecer a atenção de mais de uma equipe de pesquisadores, mas que estão vinculadas a uma coordenação central, neste caso, chefiada pela Dra. Ana Petry, professora do Programa de pós-graduação em ecologia da UFRJ.
O Professor Pablo explica que “a descoberta do ratinho Goitacá, que até pouco tempo era confundido com espécies conhecidas, se deu graças aos pormenores e exatidões que só uma pesquisa de longa duração pode proporcionar”. E, ainda, toda a interação entre os diversos organismos da restinga, como a Clúsea, planta que faz fotossíntese à noite “como uma bateria que demora a descarregar”, e que é o habitat natural do Goitacá que se alimenta do coquinho do Guriri, e que ao enterrá-lo para garantir uma futura refeição, atua como um dispersor de sementes, garantindo a sobrevivência de sua prole e os ascendentes que virão.
Uma linha de pesquisa também muito valorizada é a que diz respeito à identificação de princípios ativos em determinadas plantas de Jurubatiba, havendo um bom histórico de pesquisas já realizadas e que, a partir de informações fornecidas por “mateiros” e “erveiros” tradicionais do Parque, foram confirmados os efeitos terapêuticos de várias destas plantas.
A UFRJ também se lança neste tipo de pesquisa, iniciando um trabalho com as plantas aquáticas abundantes nas diversas lagoas do Parque, inicialmente identificando compostos nas plantas para depois confirmar a presença de princípios ativos através de testes em laboratório.
Outra pesquisa bastante interessante coordenada pela UFRJ dentro do Parque é o levantamento histórico do perfil geológico da restinga de Jurubatiba. Através de uma perfuração de 200 metros que está sendo iniciada junto à Praia de João Francisco em Quissamã, e que vai permitir identificar os extratos do subsolo no local, ajudando a compreender todas as fases da formação geológica da restinga de Jurubatiba. (Fernando Marcelo)
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