Em tempos de mudanças climáticas e constantes aumentos da demanda por recursos hídricos, proliferam por todo o País, planos para reflorestamento em bacias hidrográficas para proteção de nascentes e das margens dos rios, visando garantir disponibilidade hídrica para o abastecimento das cidades e para a movimentação
Com Marcia Moreti em seu viveiro no Sana - (2006)
da economia.
Não é diferente aqui pelas bandas do rio
Macaé, responsável por abastecer as cidades de Macaé, Rio das Ostras e Casimiro
de Abreu (distrito de barra de São João), além de duas termelétricas e todo o
complexo da Petrobras na Bacia de Campos, responsável pela produção de cerca de
80% do petróleo de todo o Brasil.
No entanto, apesar dos altos índices de crescimento
populacional, das perspectivas do pré-sal e da importância estratégica da
região, ainda são tímidas as iniciativas para recuperação ambiental desta
importante bacia hidrográfica.
Recente levantamento feito a partir de estudo diagnóstico da Bacia
hidrográfica do Rio Macaé promovido pelo INEA, revelam números que permitem estimar em cerca de 56 milhões
as mudas necessárias para reflorestar todas as Áreas de Preservação
Permanente (APPs) degradadas da Bacia do rio Macaé, aí incluídos nascentes, margens de rios e alfuentes, topos de morros, morros com inclinação superior a 45º, áreas alagáveis, restingas e manguezais.
Levante-se o total de APPs degradadas em todas as bacias hidrográficas do bioma Mata Atlântica, e
encontra-se o tamanho potencial do mercado de mudas nativas a ser explorado, certamente um número com muitos zeros que podem significar a redenção de muitas famílias residentes em áreas rurais.
Estudo realizado pelo Governo do Estado do
Rio de Janeiro em 2010, mostra, entretanto, que este grande mercado carece de
uma cadeia produtiva que o sustente. O documento mostra que existem apenas 70
viveiros de mudas de Mata Atlântica em todo o Estado do Rio de janeiro, a
maioria concentrada na região metropolitana, produzindo, juntos, apenas 10
milhões de mudas\ano, sendo que apenas o viveiro municipal da cidade do Rio de
Janeiro é responsável pela metade desta produção.
Ainda segundo o “Diagnóstico de Produção de
Mudas do ERJ”, estes viveiros empregam apenas 386 trabalhadores, têm baixa
produtividade e diversidade, e não possuem controle adequado de produção e
custos.
Têm custo de produção alto provocando a
procura por mudas nos estados de Minas Gerais, Paraná e São Paulo, para
projetos de plantio no Estado, o que é criticado por especialistas que alegam
riscos de perda de características genéticas das espécies locais, além de
elevado índice de perdas de mudas no processo de plantio por problemas de
aclimatação.
Produzir para plantar
Por outro lado, reduzindo o enfoque aos limites
municipais, observa-se que o município de Macaé reúne condições adequadas para
se transformar num grande produtor de mudas nativas de Mata Atlântica para
recuperação de suas áreas degradadas e atendimento do promissor mercado de
reflorestamento.
Macaé possui vasta área rural com cerca de 40% do
território municipal coberta por áreas
florestadas mantendo um banco natural de sementes prontinhas para serem
manejadas em favor da recuperação ambiental e da integridade de nossos recursos
hídricos.
Produzir mudas manejando sementes das ainda fartas
florestas municipais, capacitando e remunerando mateiros locais, fazendo
educação ambiental, fornecendo insumos, instalando viveiros comunitários
geridos por grupos familiares cooperativados, são ações que, se devidamente
articuladas, podem constituir a fórmula do surgimento desta nova e promissora atividade
econômica, ganhando expansão espontânea e sustentabilidade a partir do vasto
mercado de recuperação de áreas degradadas a ser explorado.
De quebra, teríamos geração de emprego e renda, fixação
do homem na área rural prevenindo o inchaço das cidades, aumento da
disponibilidade e melhoria da qualidade hídrica, maior capacidade de seqüestro
de carbono, reconstituição de habitats naturais com vantagens para a flora e
para a fauna e fomento ao ecoturismo.
Espera-se dos poderes públicos que fomentem a produção de
mudas nativas para resolver esta grave distorção entre demanda de
reflorestamento e indisponibilidade de mudas para plantio, cenário que,
inacreditavelmente se mantém, apesar de devidamente diagnosticado, com a
omissão, paralisia e falta de planejamento de todos.